terça-feira, 5 de julho de 2016

A visão de mundo de Tomek

Quem é Tomek? Quais suas origens?
Martins (2016) “ poetizou” os diálogos de Tomek com Marina. Ela – Marina Tsvetáieva, amante de Bóris Pasternak (ou sua noiva) – o conhece na França, ambos exilados.
O produto final são belos poemas, onde nossa imaginação (re) corre ao ambiente opressivo stalinista.
Desse modo, amar Tomek é fácil. E agradável! – sentir um pouco de solidão é possível. Isso, porém, não recolhe o seu modo de ver – e de repassar – suas interpretações do seu instante. Veja:

Minhas diferenças com Tomek
1.
Tomek é um caga-regras.
Ele insiste em pôr ordem na minha vida.
Que eu acorde cedo e faça caminhadas.
Que eu seja didática como outros artistas.

“O ar do mar, a luz do céu! É disso que você precisa!”

Como se fosse escolha minha
viver atenta ao que se passa
nas cavernas submarinas.

2.
Tomek ama a natureza.
Qualquer casca de arvore
é uma arca de alegrias.

Eu não.
A natureza me deprime.
Ela é muda exatamente
quando não devia  ser.


Tomek abre o seu coração

Aqui reinam os bisões.

Durante trezentos ou quatrocentos anos
pensando somente em copular e criar seus filhotes
eles se espalham por planícies e florestas.

Como não conheciam predadores
(são necessários doze lobos para acuar um bisão)
estavam afeiçoados demais ao ar, à água, à pastagem
e se sentiam em casa naquele pedaço da terra.

Quando chegaram as carabinas de repetição
entraram em pânico
e a única coisa que lhes ocorreu fazer
foi cavar o chão com suas patas e chifres.

Desde então na terra pisoteada
não cresce uma folha de grama.


Tomek, um monólogo
“A esse respeito
precisamos ter uma longa conversa
para a qual essa nossa vida de exilados
não tem deixado muito tempo.
Cada nova encomenda de trabalho
é bem-vinda, mas também desgastante
pois nos afasta das tarefas verdadeiras.

Entretanto, considere os capitéis.

Eles foram inventados para fazer a passagem
entre o leve e o pesado
- e a chuva de arabescos indomáveis
caindo sobre as colunas que um dia foram gregas
é simplesmente a prova
da força e da beleza necessárias.

‘Como isso se aplica ao nosso caso?’

Não tenho resposta.
Na verdade, nada se aplica a nada.
Faz tempo o mundo se tornou um pardieiro
de salas desconexas, cheias de múmias
e objetos de culto em que você tropeça
sem saber se vai emergir do outro lado.
A princesa egípcia, por exemplo.
Não há nada que você possa fazer por ela
nem ela por você. É melhor virar as costas
e esquecer as galerias e museus.
A partir de agora
aonde quer que vá
haverá uma pedra à tua espera.

Nossa tarefa é entalhar essa pedra.”

A  última fala de Tomek

Todas as coisas do mundo
carregam consigo uma ternura selvagem.
O primeiro passo é não temer o selvagem.
O segundo, remover a ganga de diamante e
gordura que a linguagem socou
em cada um de nós.
Agora vem a parte mais difícil.
É preciso sonhar tudo de novo.


Fonte: Revista Piauí, nº 117, Junho/2016 - págs. 74/5





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