RESUMO
A cidade de Floriano no Piauí tem registrado
suas contribuições no aspecto político nos níveis municipal, estadual e, quiçá,
nacional. Os gestores – mote deste estudo – cresceram profissional e
politicamente dentro do município. E, cada um, a seu modo foi responsável pelas
mudanças econômicas, sociais e também políticas, pelas quais a cidade passou.
Um comerciante, um motorista e um médico são
os personagens desta epopeia que marca as transformações nas mentalidades do
eleitorado local. José Bruno dos Santos, comerciante e negro que decidiu
desafiar as barreiras que lhe eram impostas pela sua condição econômica e pela
sua cor e se projetar para o “campo minado” que é a política no Brasil, desde
tempos idos. O carisma, a identificação popular com as origens talvez possam
ser a explicação para a paixão despertada por José Bruno nos eleitores da
Princesa do Sul. Afastado da vida política (no que concerne a candidatura
pessoal) segue como escritor e presidente da Academia de Letras e Belas Artes
de Floriano e do Vale do Parnaíba, a ALBEARTES.
Manoel Simplício da Silva, motorista de
caminhão, ‘forasteiro’(nascera no estado do Pernambuco), numa época de forte
cultura do bairrismo, consegue a simpatia da sociedade, tanto por ele, quanto
pela figura icônica de seu pai – Pedro Simplício – personagem agregado ao
folclore local e que à época dos apaixonantes comícios sua presença era
sinônimo de alegria, visto que seu discurso simples e direto ia de encontro aos
anseios dos ouvintes. Ainda que seus adversários tenham dado a alcunha
pejorativa de “Manoel Sardinha” em nada abalou a sua trajetória política. Segue
ainda na vida pública, atualmente vereador municipal.
Dr. Adelmar Pereira da Silva, “o médico do
povo” é o nosso terceiro e último herói a ser abordado nesta pesquisa. Filho de
um comerciante e de uma professora, o Dr. Adelmar poderia seguramente ser
enquadrado como membro da elite florianense. Sua trajetória política chama a
atenção por ter sido eleito prefeito uma única vez, mas dentre os personagens
aqui estudados teve o mandato mais longo (1977 a 1983). Em 1986 elegeu-se como
deputado estadual. Segue atuando como médico.
ABSTRACT
The city of
Floriano in Piauí has registered its contributions in the political aspect at
the municipal, state and, perhaps, national levels. The managers - motto of
this study - grew professionally and politically within the municipality. And
each, in his own way, was responsible for the economic, social, and political
changes that the city experienced.
A merchant, a
driver and a doctor are the characters in this epic that marks the
transformations in the mindsets of the local electorate. José Bruno dos Santos,
a tradesman and black man who decided to defy the barriers imposed on him by
his economic condition and his color and to project himself to the
"minefield" that has been the policy in Brazil since time immemorial.
The charisma, the popular identification with the origins may be the
explanation for the passion aroused by Jose Bruno in the voters of the Princess
of the South. Away from the political life (in what concerns the personal
candidacy) follows like writer and president of the Academy of Letters and Fine
Arts of Floriano and the Valley of Parnaíba, ALBEARTES.
Manoel Simplício
da Silva, a truck driver, 'outsider' (born in the state of Pernambuco), at a
time of strong culture of Bairisme, obtains the sympathy of society, both for
him and for the iconic figure of his father - Pedro Simplício - Added to the
local folklore and that at the time of the impassioned rallies his presence was
synonymous with joy, since his simple and direct speech met the wishes of the
listeners. Although his opponents gave the pejorative nickname of "Manoel
Sardinha" in no way affected his political trajectory. He still lives in
public life, currently a municipal councilor.
Dr. Adelmar
Pereira da Silva, "the doctor of the people" is our third and last
hero to be approached in this research. Son of a merchant and a teacher, Dr.
Adelmar could surely be framed as a member of the Florian elite. His political
trajectory calls attention to having been elected mayor only once, but among
the characters studied here had the longest term (1977 to 1983). In 1986 he was
elected as state deputy. He continues to act as a physician.
A DÉCADA DE 1970: POLÍTICA EM
FLORIANO-PIAUÍ.
A historia politica da
cidade de Floriano – Piauí é rica em contribuição nos níveis municipal,
estadual e, quiçá, nacional. Os gestores elencados para serem estudados no
período proposto cresceram profissional e politicamente dentro do município e,
cada um ao seu modo, contribuiu para que a cidade enfrentasse e superasse seus
obstáculos e pudesse alcançar o status que detém na segunda década do século
XXI. É verdade que, em termo de posicionamento de importância dentro do Estado,
àquela época o município se encontrava bem mais colocado que agora, como também
é verdade que a cidade ainda goza de prestigio altíssimo no cenário do qual faz
parte.
O que se percebe, porém é
que, não obstante à riqueza em contribuições e aos feitos individuais dos
prefeitos analisados, pouco se encontra dessas realizações na historiografia
municipal e estadual, deixando uma lacuna literária e aguçando a curiosidade
daqueles que procuram conhecer melhor a história do município bem como a de
seus colaboradores em cargos públicos.
Desse modo, essa história
rica em detalhes desde o seu nascimento, merece e precisa ser redescoberta e
recontada. A dos homens que a fizeram, também. As cidades crescem em função dos
homens e para estes. Nesse sentido, Costa (2013) enfatiza com propriedade o
valor tanto de homens quanto de mulheres em uma cidade:
a
vida de personalidades que estão registradas (...) podem dar uma exata dimensão
dos homens e mulheres que deram parte de suas vidas em prol desta terra de
forma generosa e muitas vezes altruísta. Na verdade, uma cidade, uma
comunidade, sempre tem que ser formada por pessoas, pois são elas que dão vida
e ânimo a um lugar (COSTA, 2013, p. 7 – adap).
Entre
os homens e mulheres que fizeram a história desta cidade, a partir do Estabelecimento Rural São Pedro de
Alcântara, assentado a partir de setembro de 1874, conforme cópia de
documento da época e de devida transcrição atualizada, ambos anexados a esse
estudo, “Bruno 70”; “Manoel Sardinha” e o “Médico do povo” – período agitado,
mas também festivo e criativo – prefeitos de 1971 a 1972; 1973 a 1976 e 1977 a
1983, respectivamente, estiveram “à altura de seu tempo” e de seu modo, cada um
buscou satisfazer expectativas. Homens que se desvincularam de ideologias
primarias e lograram conquistar a confiança de seus munícipes.
O
que fizeram estes três homens públicos, seus projetos não concebidos, o que
marcou significativamente o município em suas gestões será analisado, intuindo
traçar um perfil característico do “autor e da obra”, e como cada um contribuiu
para o desenvolvimento da Floriano – Piauí conhecida nos dias atuais.
A cidade-palco das atuações dos
ex-prefeitos.
O
contexto histórico do surgimento da cidade de Floriano – Piauí data dos tempos
do Primeiro Reinado e se vincula à história do Piauí e dos seus personagens
fundadores. Situa-se em uma área, segundo Gandara (2010) onde uma sesmaria foi
concedida pela coroa portuguesa a Domingos Afonso Mafrense que teria, na
região, fundado as primeiras fazendas para a criação de gado no Piauí (p. 257).
As
dificuldades verificadas para tal empreendimento, segundo a autora citada
(GANDARA, 2010) se deveu a vários fatores, tanto de ordem natural, como
geográfica e problemas de locomoção e, ainda, da contratação de trabalhadores
para a labuta com o gado. Superadas as dificuldades, é fundada a sede do
Estabelecimento Rural de São Pedro de Alcântara que, doravante seria colônia
com o mesmo nome e, em idos posteriores, tornar-se-ia no município de Floriano
– Piauí.
Sobre a cidade que
conhecemos hoje, o depoente Filadelfo Freire de Castro, concedendo entrevista à
autora citada diz que:
A formação da cidade eu atribuo à
convergência de muitos maranhenses do município de Nova Iorque, Pastos Bons,
São João dos Patos, muito municípios do Maranhão à procura de colégio e também
da família síria que é um dos patrimônios que nós temos aqui são os árabes.
Eles vieram aqui para Floriano, eram muito trabalhadores e muitos se destacaram
na cultura (...) Ela é uma cidade de convergência... Porque é sempre,
praticamente uma cidade de passagem porque ela cresceu quando os grupos do
Nordeste da Paraíba, do Ceará vinham para alcançar não só aqui essa região do
Piauí como também do Maranhão. (...) Nós aqui em Floriano não temos nenhuma
reação contra as pessoas que vem de outras passagens até porque nós mesmos,
todos nós chegamos aqui vindo de outras passagens... (GANDARA, 2010, p. 265).
Percebe-se, pelo texto
epigrafado, que o município nasceu, ao mesmo tempo, heterogêneo e hospitaleiro.
Uma mistura de gentes vinda do Maranhão, da Paraíba, do Ceará, além do povo
sírio que chegou comerciando e envolvendo os citadinos com sua cultura rica e
variada. Essa cidade irá crescer, oferecer possibilidades e chegar,
aconchegante e querida, até aos dias atuais.
Com o passar dos anos já era
possível prevê que a cidade, por sua localização geográfica e pelas
possibilidades enquanto entreposto comercial – essa era a sua natureza – seria
destaque “para o sul do Piauí e Maranhão” (GANDARA, 2010, p.281).
O desenvolvimento no campo político.
O cenário politico da “Princesa do
Sul” – durante muito tempo a cidade foi conhecida assim; hoje essa designação
se encontra esquecida – sempre foi agitado. Ainda hoje o é, mesmo que seja com
menos ímpeto. Os anos a serem estudados, principalmente, pois eram tempos dos
grandes comícios, das passeatas após estes e de alvoradas onde predominavam
carros cheios de simpatizantes e correligionários, o que proporcionava
espetáculo distinto pois muitas vezes os carros participantes das alvoradas às
5h00 da manhã eram alugados por pessoas que apenas seguiam os candidatos.
Gandara (2010) citando Castro (1997)
assim se expressa sobre essa vocação política da cidade:
No plano politico,
Floriano adquiria importância crescente e participava, através de suas
lideranças mais expressivas, das grandes decisões e dos negócios do Estado. De
outra parte, a sua população gozava de um padrão de vida relativamente elevado,
assim como de bem estar social, e condições naturais de lazer invejáveis. Todo
esse sucesso fazia de Floriano um ponto de convergência irradiador do
progresso, uma vez que, por sua posição geográfica privilegiada, se colocara à
porta de entrada de todos os caminhos que levavam ao sul do Piauí, ao médio e
alto Parnaíba, no Maranhão, e no norte de Goiás (GANDARA, 2010, p. 281).
É dentro desse panorama que os
prefeitos que governaram o município durante a década de 1970 e os três
primeiros anos de 1980 – isso em virtude de o mandato de Adelmar Pereira da
Silva findar em 1983 – serão analisados no contexto de seus desempenhos
enquanto chefes do executivo municipal.
José Bruno dos Santos: “nós vamos
quebrar essa panelinha”.
Discorrer sobre José Bruno dos Santos
enquanto burgomestre em Floriano-Piauí é falar de um expoente na política do município. Dos três ex-prefeitos
que governaram a cidade, ele é o de carreira mais curta na politica municipal.
José Bruno – o Bruno 70 da campanha ao
executivo florianense era, acima de tudo, um cidadão comum. E ainda o é hoje,
passados mais de 40 (quarenta) anos do seu mandato. Bruno jornalista; Bruno
escritor;; Bruno comerciante e desportista. Mas também, dentro do que importa
ao município, Bruno vereador; Bruno Prefeito e Bruno deputado estadual
(umbelarte.blogspot.com.br, acesso em 13-02-2107).
Sobre o ex-prefeito de Floriano – Piauí José
Bruno dos Santos, membro presidente d Academia de Letras Belas-Artes de
Floriano Piauí e Vale do Parnaíba – ALBEARTES – se teria escrito os ditos de um
dos seus desafetos políticos, segundo o http://portaldefloriano.blogspot.com.br
(Acesso em 07/Fev./2017), em época de sua campanha para prefeito, o seguinte:
Anda por aí um
sujeito fantasiado de negro. Tenham cuidado com ele. Que negro é esse, meus
senhores, que calça sapato de veludo, usa gravata italiana, camisa poliéster,
terno branco de linho S-120 e desfila nos salões do famoso Comércio Esporte
Clube, o clube mais grã-fino da região? Isso não é negro: é um verdadeiro
enrolão. Negro é o nosso Sadica, um dos jogadores mais importantes do
Ferroviário Atlético Clube, que com seus dribles sensacionais marca os seus
gols e levanta a nossa torcida. Daí a minha recomendação: vamos eleger Nazareno
Araújo, deputado estadual, advogado brilhante, filho da terra, homem da
sociedade.
Manoel
Simplício da Silva – “o Manoel sardinha”.
Atualmente vereador reeleito com
mandato até 2020, Manoel Simplício da Silva nasceu a 08 de fevereiro de 1936.
Técnico em Contabilidade foi eleito vereador da cidade florianense, pela
primeira vez, em 1970; no pleito seguinte se tornaria burgomestre (prefeito),
eleito para a sucessão de José Bruno dos Santos.
Oriundo de Vicência – Pernambuco,
além de Técnico em Contabilidade, foi comerciante. Casado com a professora
Maria do Socorro Góes e Silva, a carreira política do Motorista de caminhão –
usavam isso na sua campanha à prefeitura – é extensa dentro do município: está
na 4ª (quarta legislatura como vereador (1971-1973; 2005-2009; 2013-2016 e
2017-2020); foi chefe do executivo municipal durante três períodos (
1973-1976;1983-1989; 1993-1998) e legislou, enquanto deputado estadual, no
período de 1979 a 1983 . seu primeiro partido politico foi a Aliança Renovadora
Nacional – ARENA – partido dos militares no poder. Depois migrou para PDS, PFL,
PTB.. atualmente defende a sigla do PV.
O Sr. Manoel Simplício da Silva distou, ainda
cargo eletivo em 1990 (deputado estadual); 1998 (IDEM); 2000 (prefeito) e 2002
e 2010 (deputado estadual). Em ambos os casos, porem, não logrou êxito em seu
intento.
Adelmar
Pereira da Silva – “O médico do povo”.
Adelmar Pereira da Silva, nascido a
26 de março de 1942 – o mais novo dos ex-prefeitos elencados – “é um médico e
politico brasileiro, com atuação no Piauí (WIKIPÉDIA, 2017, acesso em 13 de
fevereiro de 2017)”.
Filho do comerciante Abdias Pereira
da Silva e da professora Noemi Malheiros e Silva, o Dr. Adelmar – como é
conhecido da comunidade municipal – trabalhou, enquanto médico, no Instituto
Nacional de Seguridade Social (INSS, ex. INPS).
Em 1974 foi eleito suplente de deputado
estadual iniciando com isso sua breve carreira política. Breve não por falta de
vontade e tentativas, mas “por não ter caído no gosto do povo” (G.N.) dos
alcaides arrolados neste estudo é detentor do mandato mais longo, como prefeito
do município em um único período, tendo governado a cidade do ano de 1979 a
1983, em virtude de chicanas políticas convenientes ao regime nacional vigente.
Eleito prefeito pelo então partido da
situação, Aliança Renovadora Nacional, ARENA, elegeu-se deputado estadual pelo
PDS, em 1986. Tentou reeleição em 1990, sem conseguir. Para a prefeitura
tentaria outras duas vezes, 1992, pelo PDS e 2004, pelo PSL, não conseguindo
alcançar o objetivo em ambos os casos.
Referências
COSTA,
Cristovão Augusto Soares de Araújo (org.) Coleção florianense n. 2. – Teresina: Gráfica e Editora, 2013.
GANDARA,
Gercinair Silvério. Rio Parnaíba – Cidades-beiras: (1850/1950). – Teresina:
EDUFPI, 2010.
SANTOS,
José Bruno dos. Transpondo barreiras – 2. ed. – Teresina: COMEPI, 1999 .