domingo, 20 de dezembro de 2015

Despedida de "casado" com o Synésio

“Façamos da interrupção um caminho novo,
da queda um passo de dança,
do medo uma escada,
do sonho uma ponte,
da procura, um encontro”.
               Fernando Sabino

Em março de 2013, ao despedir-me dos colegas de trabalho na Escola Municipal de Ensino Fundamental – EMEF Synésio Rocha, São Paulo (capital), passaram-me um cartão assinado por diversos colegas, com os quais convivi por um pouco mais de três anos. Neste “documento” que me foi entregue, na sua capa estavam escritas as palavras de Fernando Sabino, destacadas acima.
Na prática, o 8 de março daquele ano interrompia um ciclo de convivência nem sempre saudável, no seu aspecto das relações em um ambiente de trabalho. Porém, por se tratar de pessoas idôneas, conhecedoras de “direitos e deveres” sociais, havia um sinceridade latente entre todos, agradasse ou não a sua manifestação. Desse modo, as dissenções, quando existiam, se manifestavam sem que acarretassem na quebra do respeito e da amizade. A prova indubitável dessa afirmação não se baseia apenas nas palavras de Fernando Sabino que foram transcritas, mas em algumas expressões dos colegas ao assinarem o referido “documento”.
Patrícia Rossi, professora de alunos com necessidades especiais, bela e dinâmica – ainda que extremamente defensiva – ao citar os parabéns, acrescentou que “sejas muito feliz neste novo caminho a trilhar”.
O professor Luciano, sábio em palavras e no conhecimento de suas responsabilidades com seus alunos disse “sentir uma inveja boa” por saber que eu voltava para minha terra onde, segundo ele, a qualidade de vida em muito supera à de São Paulo, e encerra desejando-me sorte e felicidades.
Desejos de felicidades foi uma representação quase unanime. O “concorrente a ser batido”. Anna Luiza, professora que retornava à escola depois de um período ausente escreveu “desejo muitas felicidades”. “Seja feliz na nova empreitada” (Waldir, companheiro de corredor, amigo – ainda que nem sempre concordássemos nos acontecidos do dia a dia – e “musicólogo” finíssimo e de bom gosto. Sinto saudades, amigo). “... muitas felicidades em seu novo projeto” (Liduína, aparentemente frágil mas de uma valentia que assustava até aos do corredor); “felicidades sempre” (Maria Helena); “Sucesso e felicidades” (Penha, professora de projetos); “Felicidades mil”(Anna Cúrcio, excelente pessoa boa conselheira e que concordava comigo no combate à Renata: Somos PALMEIRENSES!!!! – morre de inveja, Renatinha).
O que poderia dizer da Renata? – seu grande defeito é torcer pelo “outro time”. Afora isso, é uma pessoa singular, a quem devo muito desde os meus primeiros dias no Synésio. Renata, querida, beijos (com a licença e o respeito por seu esposo, a quem não tive o prazer de conhecer). É da Renata o “Sr. Days, que o Senhor jesus te abençoe e multiplique suas vitórias. Felicidades”. Muitos outros professores e amigos se manifestaram: Tiago (português); Alessandro (ATE); Lenira (projetos); Kátia (séries iniciais); Roberta (idem); Marta e Fernanda (historiadoras); Lucy (matemática – com quem eu tirava minhas dúvidas relativas à álgebra e outras situações matemáticas); Sylvana, coordenadora, excelente pessoa, com quem pouco conversava mas que admirava muito por sua integridade e respeito – um abraço. Luciene, Vivi, Sônia...
Existem, no entanto, pessoas que, por razões diversas e particulares, mais nos aproximamos e isso acontece em qualquer nível das relações humanas. Mara Peseto é um exemplo. Bem mais que secretária da escola Mara se revelou um caráter extraordinário. É uma pessoa a quem tenho uma estima particular pela sua amizade e por ser extremamente compreensível. Beijos para você, Mara.
Marcia Amaral merece que, com a Licença do Raul Gil, “eu tire o chapéu” para ela. Sábia, dinâmica, visionária, sempre acreditando que os meninos do Synésio tem potencial. Saudades dos Saraus, Marcia.
Aizita – essa é tudo de bom em qualquer sentido (que o Lucas, maridão são-paulino me perdoe; não me falta respeito mas sobra inveja). Aizita, meu carinho particular.
Tive outros amigos e alguns por questões de remoção ou licenças não estavam presentes na minha despedida. A todos que fizeram parte da minha trajetória “Synesiana” meu abraço e respeito. Ao Suzuky, matemático e sistemático, mas grande amigo, meu abraço.
A última a ser citada escreveu o seguinte: “sentirei falta dos nossos cafés filosóficos... felicidades”. Não sem motivos deixei este nome para o final. Foi muito marcante o conhecimento e a convivência com a Diretora. Mentiria se afirmasse que sempre concordamos. Em nosso primeiro contato como profissionais ela foi dura para comigo (o caso dos meninos do EJA com o narguille). Além disso, por mais duas vezes ela me corrigiu com firmeza, ainda que em uma das ocasiões eu discordasse da sua atitude.
O que importa, porém, é o que aprendi em relação ao valor de uma amizade. A Diretora em várias situações estendeu-me a mão, esqueceu a hierarquia e “fez o barco navegar”. Nessas ocasiões foi amiga, foi gente, foi ser humano. Te agradeço querida e amiga Diretora. Te devo muito pelo que aprendi e sinto falta dos meus dias de Synésio. Um abraço forte de quem te estima muito.

Obs.: A Diretora, como não poderia deixar de ser, tem um nome: Marcia Aparecida. Para mim, no entanto, será sempre alguém que me “dirigiu” por um período próximo a quatro anos, o suficiente par mudar a minha mentalidade profissional.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

MPB - Reconvexo - Maria Bethânia

Reconvexo
  
Eu sou a chuva que lança a areia do Saara
Sobre os automóveis de Roma
Eu sou a sereia que dança, a destemida Iara
Água e folha da Amazônia
Eu sou a sombra da voz da matriarca da Roma Negra
Você não me pega, você nem chega a me ver
Meu som te cega, careta, quem é você?
Que não sentiu o suingue de Henri Salvador
Que não seguiu o Olodum balançando o Pelô
E que não riu com a risada de Andy Warhol
Que não, que não, e nem disse que não
Eu sou o preto norte-americano forte
Com um brinco de ouro na orelha
Eu sou a flor da primeira música a mais velha
Mais nova espada e seu corte
Eu sou o cheiro dos livros desesperados, sou Gitá gogoya
Seu olho me olha, mas não me pode alcançar
Não tenho escolha, careta, vou descartar
Quem não rezou a novena de Dona Canô
Quem não seguiu o mendigo Joãozinho Beija-Flor
Quem não amou a elegância sutil de Bobô
Quem não é recôncavo e nem pode ser reconvexo.



A música tem isso de transmitir ideias e valores novos às nossas mentalidades.  Não basta apenas “gostar” da música. Conhecer a letra e identificar características, seus personagens e até, pode-se afirmar, suas mensagens ideológicas tem relevância. Maria Bethânia é um ícone da MPB e seu repertório é por demais competente para satisfazer ao mais variado gosto. Entre suas músicas, Reconvexo merece ser ouvida, senão por outro motivo, apenas pela sua beleza.


Brincando de cordel

Cordel - Minha Decisão
(Do sertanejo que veio a São Paulo e agora vai voltar)
DIAS, Eisenhower.

Eu quero te dizer agora
Coisa muito interessante
Que acontece toda hora
 E se repete a todo instante
Pense no que vou dizer
E vai aprender bastante

Vim de uma terra distante
Com uma vontade aguerrida
Sendo lugar muito longe
Deixei minha gente querida
Só nunca pensei ficar
Pro resto da minha vida

Aqui tem muito trabalho
Lá tem muita gente boa
Aqui eu ando de trem
Lá eu vou de canoa
Aqui o banho é quente
Lá o banho é na lagoa

No dia-a-dia da roça
Ou no forró de arrasta-pé
Encontro com João e Maria
Com Paulo, Marta ou José
Assim eu sigo a vida
Enfrentando o que der e vier

Aqui é bom, eu não nego
Pra quem quiser trabalhar
Muitos meios se oferecem
Para a vida se ganhar
Ocorre que não sou daqui
E nem vim para ficar

Aqui é muito engraçado
O que nós vemos na rua
Tem “homi” que é quase homem
Tem mulher andando nua
Mas ninguém é de ninguém
Todo mundo fica na sua

São Paulo é muito grande
Floriano muito pequeno
O que aqui se tem de sobra
Lá se fica devendo
Barriga aqui anda cheia
Lá ela anda encolhendo

Mas Floriano é terra boa
Cheia de muita alegria
Se choramos um pouco à noite
Sorrimos muito de dia
Mesmo o sol estando quente
A cabeça é sempre “fria”

São duas cidades boas
Dois lugares queridos
Tem muita gente bonita
E alguns corações feridos
Lugares de muitos amores
Amores às vezes bandidos
Não sei qual deva escolher
Tendo que fazer opção
É essa ou será aquela
Que move meu o coração
Qualquer que eu possa escolher
Será por uma boa razão

Não posso findar essa breca
Sem dizer que em Floriano
Tem muita mulher bonita
Nisso não há engano
Se uma me disser “fica”
Acho que acabo ficando!

Lá não tem o Palmeiras
Mas tem o Corisabá
E tem uns pássaros que cantam
O que eles sabem cantar
São simples, porém são belos
Tão belos como o sabiá

Com o coração a bater
Encerro minha peleja
A todos deixo um abraço
Com toda a minha certeza
Que aqui fiz bons amigos
Sem qualquer distinção que seja
(Dias – 04/03/2013)




O hobby da leitura

O estabelecimento de metas a serem atingidas no ano seguinte faz parte de uma rotina em todo final de ano, uma prática que já se repete há algum tempo.
Entre as metas que foram estabelecidas para 2015, ler 10 (dez) livros estava entre os compromissos a serem assumidos – o estabelecimento da meta por si só não se configura um compromisso.
Sem especificação de autor ou de gênero, a ideia era apenas ler, o que, ressalte-se, já é uma prática de muito tempo. Existe um “prazer consumista” no ato de ler. Foi o que me ensinou a ler – a prática da leitura.

Ler, ler, ler..
O que
Para que
Quando ler
Ler para que?
Sim, para que ler? – e o quê?
Tem benefícios?
Quais?
  - Ler é arte – dizem alguns
  - Ler é viver – diz a campanha publicitária
  - Ler ensina – ouve-se do professor
  - É uma “viagem”. – e se eu não gostar de viajar também?
Porque devo ler?
Para que ler tanto?
Apenas por passatempo
Meio de descobrir
Ou, quem sabe,
Mera “filosofia” de vida
 - O descortinamento de horizontes
Em diversas páginas
Ou em tantos autores
E em aventuras tantas
Ler é um método
Ensinando sobre a vida
Sobre tudo e todos
Sobre ser
O que somos!!!
         .x.x.x.

Com essa ideia consegui ler não 10 (dez), mas 16 (dezesseis) livros no ano de 2015. Autores variados; temas mais variados ainda – didáticos, romances policiais,  religiosos, aventura, etc. – sem nenhum segredo ou regra particular. Apenas “debrucei-me” sobre o livro e, usando de uma maneira particular adotada por amigos (professores da UESPI) “Bebi um pouco em diversos autores e temas...”.
Os livros lidos estão relacionados a seguir e uma boa leitura àqueles que assumirem essa proposta em 2016.

ALARCÃO, Isabel. Professores reflexivos em uma escola reflexiva.. 4. ed. – São Paulo: Cortez, 2005.

ARCHER, Jefrey. Falsa impressão. Rio de Janeiro: Reader’s Digest, 2014.

FABIO, Caio. O drama de Absalão. – Niterói (RJ): Vinde, 1995.

FREITAG, Bárbara. O indivíduo em formação. 3. ed. – São Paulo: Cortez, 2001.

FOLET, Ken. O terceiro gêmeo. – Rio de Janeiro: Rocco, 1997.

GOMES, Laurentino. 1822: Como um sábio, uma princesa (...), e um escocês (...) ajudaram a D. Pedro a criar o Brasil (...). – Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2010.

KONSALIK, Heinz G. Eles eram dez. 2. ed. – Rio de Janeiro: Record, 1979.

LAGERCRANTZ, David. A garota na teia de aranha. 1. ed. – São Paulo: Companhia das Letras, 2015.

LUDLUN, Robert. O Fator Hades. Rio de Janeiro: Rocco, 2001.

LUDLUN. Robert. O Mosaico de Parsival.  – Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1982.

ROBINS, Harold. Os implacáveis. – Rio de Janeiro (GB): Eldorado, 1949

SHELDON, Mary. Pandora. – Rio de Janeiro: Record, 2006.

SHELDON, Sidney. Quem tem medo de escuro. 8. ed. – Rio de Janeiro; Record, 2007.

SIMMEL. Johannes M. não matem as flores. – São Paulo: Circulo do livro, 1983.

WEST, Morris. A Salamandra. – Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1982.

WOLF, Fausto. À mão esquerda. – Belo Horizonte: Editora Leitura, 2007.


terça-feira, 13 de outubro de 2015

Poesia, Amor e Felicidade: Elementos essenciais nas relações e ao bem estar do seres humanos

A poesia de Ferreira Gullar.

O enveredamento pelo mundo da poesia é algo natural no ser humano, sendo que em alguns, após o primeiro contato, há um alheamento das manifestações poéticas. Isso ocorrerá principalmente pela não identificação do sujeito com a mensagem contida na poesia.
Essa identificação se dá quando a poesia “fala” ao sujeito desde os primeiros instantes do contato e vários fatores irão concorrer para essa empatia entre ambos – o sujeito e a poesia – tais como a mensagem contida, o momento vivido e, mais distante, o autor que irá movimentar através do seu texto as emoções, propósito final da arte poética.
Autores – e autores bons – não hão que faltar em um país tão rico culturalmente como o Brasil. Citar nomes se tornaria uma tarefa extenuante dado a quantidade e variedade de poetas tupiniquins. Mas como todo mortal tem suas preferências, um poeta que tem se destacado em minhas leituras no gênero é Ferreira Gullar. Sério em alguns momentos e irreverentes em outros e engajado em outros ainda, este se tornou o meu preferido, sem desmerecimento de tantos outros bons que temos em nosso cenário.
A seguir, destaque para alguns textos deste que é nosso vizinho – maranhense – e que tem muito a contar e nos emocionar e fazer refletir com suas criativas poéticas.

O açúcar

O branco açúcar que adoça meu café
Nesta manhã de Ipanema
Não foi produzido por mim
Nem surgiu dentro do açucareiro por milagre.
Vejo-o puro e afável ao paladar
Como beijo de moça, agua
Na pele, flor que dissolve na boca.
Mas este açúcar não foi feito por mim.
Este açúcar veio
Da mercearia da esquina e tampouco o fez o Oliveira,
Dono da mercearia.
Este açúcar veio
De uma usina de açúcar em Pernambuco
Ou no estado do Rio
E tampouco o fez o dono da usina.
Este açúcar era cana
E veio dos canaviais extensos
Que não nasceu por acaso
No regaço do vale.
[. . .]
Em usinas escuras
Homens de vida amarga e dura
Produziram este açúcar branco e puro
Que adoça o meu café esta manhã em Ipanema.

X .X.X.X

Traduzir-se

Uma parte de mim é todo mundo
Outra parte é ninguém
Fundo sem fundo
Uma parte de mim é multidão
Outra parte estranheza e solidão.
Uma parte de mim pesa, pondera
Outra parte delira.
Uma parte de mim almoça e janta
Outra parte se espanta.
Uma parte de mim é permanente
Outra parte se sabe de repente.
Uma parte de mim é só vertigem
Outra parte é linguagem.
Traduzir uma parte na outra parte
- que é uma questão de vida ou morte –
Será arte?
              
z/z/z/z/z/z

Agosto 1964

Entre lojas de flores e de sapatos, bares
Mercados, butiques,
Viajo.
Num ônibus Estrada de Ferro – Leblom.
Volto do trabalho, à noite em meio,
Fatigado de mentiras.
O ônibus sacoleja. Adeus, Rimbaud,
Relógio de lilases, concretismo,
Neoconcretismo, ficções da juventude, adeus,
Que a vida
Eu compro à vista aos donos do mundo.
Ao peso dos impostos, o verso que sufoca,
A poesia agora responde a inquérito policial-militar.
Digo adeus à ilusão
Mas não ao mundo. Mas não à vida,
Meu reduto e meu reino.
Do salario injusto
Da punição injusta
Da humilhação, da tortura, do terror,
Retiramos algo e com ele construímos um artefato,
Um poema,
Uma bandeira.

(Os cem melhores poemas brasileiros do século. In: MARICONI, Ítalo (org.).
Rio de Janeiro: Objetiva, 2001).

b\b\b\b\b\b\b\b\b\

No campo da poesia social – aquela poesia comprometida com os problemas sociais – Ferreira Gullar também se destaca, vez que ainda hoje faz poesia engajada. A que segue é um exemplo:

Homem comum

Sou um homem comum
De carne e de memoria
De osso e esquecimento.
Ando a pé, de ônibus, de taxi, de avião
E a vida sopra dentro de mim
Pânica
Feito a chama de um maçarico
E pode
Subitamente
Cessar.

[ . . . ]
Sou um homem comum
Brasileiro, maior, casado, reservista,
E não vejo na vida, amigo
Nenhum sentido, senão
Lutarmos juntos por um mundo melhor.
Poeta fui de rápido destino
Mas a poesia é rara e não comove
Nem move o pau de arara.

Quero, por isso, falar com você
De homem para homem, apoiar-me em você
Oferecer-lhe o meu braço
Que o tempo é pouco
E o latifúndio está aí, matando.

[ . . . ]
Homem comum, igual
A você
Cruzo a Avenida sob a pressão do imperialismo
A sombra do latifúndio
Mancha a paisagem
Turva as aguas do mar
E a infância nos volta
À boca amarga,
Suja de lama e de fome.
Mas somos muitos milhões de homens
Comuns
E podemos formar uma muralha
Com nossos corpos de sonho e margaridas.

( GULLAR, Ferreira. Toda poesia (1950 – 1999). Rio de Janeiro:
José Olympio, 2000). 


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O que faz você feliz?

Cotrim (2010) afirma que “segundo alguns estudiosos, três ideais ou valores foram ganhando importância ao longo da história nas sociedades ocidentais e são, hoje, considerados elementos fundamentais da felicidade individual e coletiva: amor ao próximo; liberdade e bem comum (p. 26/7)”.
O pensador inglês Jeremy Bentham (1748-1832) enviou a seguinte mensagem para uma jovem na data de seu aniversário:

Crie toda a felicidade que possas; suprima toda a infelicidade que consigas. Cada dia te dará oportunidade de agregar algo ao bem-estar dos demais ou de mitigar um pouco suas dores. E cada grão de felicidade que semeies no peito alheio germinará em teu próprio peito, ao passo que cada dor que arranques dos pensamentos e sentimentos de teus semelhantes será substituída pela paz e alegria mais belas do santuário de tua alma.
(In; COTRIM, 2010, p. 30).

A pergunta feita no titulo deste texto é relevante visto que há uma busca incessante pela felicidade, sendo esta atrelada a vários aspectos do cotidiano de todos, do mais simples ao mais abastado.
Em 2007 uma campanha publicitária do grupo Pão de Açúcar (publicada em Veja/ março de 2007) e que trazia o título O que faz você feliz? Assim se compunha:

A lua, a praia, o mar
A rua, a saia, amar. . .
Um doce, uma dança, um beijo,
Ou é a goiabada com queijo?
Afinal, o que faz você feliz?
Chocolate, paixão, dormir cedo, acordar tarde,
Arroz com feijão, matar a saudade. . .
O aumento, a casa, o carro que você sempre quis
Ou são os sonhos que te fazem feliz?
Um filme, um dia, uma semana
Um bem, um biquíni, uma grama. . .
Dormir na rede, matar a sede, ler. . .
Ou viver um romance?
O que faz você feliz?
Um lápis, uma letra, uma conversa boa
Um cafuné, café com leite, rir à toa
Um pássaro, ser dono do seu nariz. . .
Ou será um choro que te faz feliz?
A causa, a pausa, o sorvete,
Sentir o vento, esquecer o tempo,
O sal, o sol, um som,
O ar, a pessoa, o lugar?
Agora me diz,
O que faz você feliz?

X=x=x=x=x=x=x=x 

Florbela Espanca é uma das grandes representantes do modernismo português, sendo seus poemas revestidos de grande intensidade quando falam de amor. Veja o exemplo a seguir:

Os meus versos

Rasga esses versos que eu te fiz, amor!
Deita-os ao nada, ao pó, ao esquecimento,
Que a cinza os cubra, que os arraste o vento,
Que a tempestade os leve aonde for.

Rasga-os na mente, se os souberes de cor,
Que volte ao nada o nada de um momento!
Julguei-me grande pelo sentimento,
E pelo orgulho ainda sou maior! . . .

Tanto verso já disse o que sonhei!
Tantos penaram já o que eu penei!
Asas que passam, todo mundo as sente. . .

Rasga os meus versos. . . pobre endoidecida!
Como um grande amor cá nesta vida
Não fosse o amor de toda a gente! . . .

(ESPANCA, Florbela. A mensageira das violetas – antologia, 1997).

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Sobre poesias e documentos

Coisas de blog


Cantiga para não morrer.
Quando você for embora
Moça branca como a neve, me leve.
Se acaso você não possa
Me carregar pela mão,
Menina branca de neve
Me leve no coração..
Se no coração  não possa
Por acaso me levar,
Moça de sonho e de neve,
Me leve no seu lembrar.
E se aí também não possa
Por tanta coisa que leve
Já viva em seu pensamento,
Menina branca de neve
Me leve no esquecimento.
                       GOULLAR, Ferreira – 1985


Para pensar
“Não censuro aqueles que,
Inflamados pelo amor da pátria,
Enfrentam perigos para estabelecer a liberdade...
Embora julgue muito arriscado o que fazem.
Poucas são as revoluções
Bem sucedidas e, ainda assim,
Não dão os resultados esperados (...) “.
                                       In: WEST, Morris – 1973


x/x/x/x/x/x/x/x/x/x/x/x/x/x

“Chega um momento na vida
Em que só nos resta energia
Para um bom amor
E coragem para uma boa luta.
É preciso não gastar
O amor com uma prostituta,
Nem a luta com um dragão de papel”.

                             Manzini – personagem de A Salamandra. – WEST, Morris, 1973

.,.,.,.,.,.,.,.,.,.,.,.,.,.,.,.,.,.,.,.,.,.,.,.,.,.,.,

A Segunda Guerra Mundial, passados setenta anos do seu final, continua sendo um assunto que incomoda e fascina ao mesmo tempo. Volta e meia se descobre algo novo sobre o conflito que serviu para dividir opiniões desde muito tempo até aos nossos dias. Veja-se:

Relatório sobre a situação da região oeste nas regiões ocupadas do Ocidente, 5/6/1944:

            Forte crescimento das atividades dos movimentos de resistência no sul da França, principalmente na região ao sul de Clermont-Ferrand e em Limoges. Aparente processo unitário dos grupos de resistência na luta contra a Alemanha e postergação das condições políticas internas. Relatórios sobre numerosos recrutamentos para o Exército Secreto, em parte através de ameaças e pressões, em parte devido à propaganda contra os trabalhos na Alemanha. Concentração de grupos de ação em Tulle (70 quilômetros de Limoges) e nas montanhas do maciço central em Saint -Flour (80 quilômetros ao sul de Clermont-Ferrand). Fortes atividades terroristas no departamento de Corrèze. Ataques contínuos aos trens, lugarejos inseguros, postos da administração francesa, destruição dos campos de trabalhos franceses, roubo de viaturas e combustíveis. Libertação de prisioneiros em um trem de transporte público, depois de um tiroteio, 6 cidadãos franceses, entre eles o tabelião e 2 filiados às milícias, retirados de suas casa durante o dia e depois fuzilados na praça central, em uma pequena cidade de Limoges. Militantes do Exército Secreto mostraram-se pela primeira vez com uniformes cáquis, com distintivos azul-branco-vermelho, nos arredores de Clemont-Ferrand. Forte contra-ataque com numerosas forças e apoio aéreo em preparação...

KONSALIK, Heinz G. Eles eram dez, 1979. – Segundo o autor, esse relatório partiu das forças invasoras na França e deveria ser compilado e entre a Adolf Hitler.

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Sobre o D—Day, a “maior aventura” da história da Guerra, o Comandante-em-Chefe das tropas invasoras teria feito conhecer as suas determinações para o dia 6/6/1944:

Soldados, marinheiros e aviadores das forças de desembarque aliados:
            Vocês estão-se dirigindo para a grande cruzada para a qual nos preparamos há muitos meses. Os olhos do mundo estão voltados para vocês; as esperanças e as orações dos amantes da liberdade de todo o mundo os acompanham. Junto com nossos corajosos aliados e irmãos de armas de todos os fronts, vocês destruirão a máquina de guerra alemã, varrerão a tirania nazista sobre os povos oprimidos da Europa e conseguirão segurança para todos nós em um mundo livre.
            A missão de vocês não será fácil. Seu inimigo é bem treinado, está bem armado e tem experiência de guerra. Ele lutará fanaticamente. Mas nós estamos no ano de 1944. Muita coisa aconteceu depois das vitórias alemãs de 1940 e 1941. As Nações Aliadas causaram grandes derrotas aos alemães e mesmo nas batalhas abertas de homem a homem. Nossa ofensiva aérea provocou imensas perdas a suas forças no ar e na terra. Nosso front na pátria nos conseguiu uma superioridade surpreendente em termos de armas e materiais de guerra, além do que nos coloca à disposição grandes reservas de guerreiros bem treinados. A maré mudou. Os soldados do mundo livre marcham juntos para a vitória.
            Confio plenamente na coragem de vocês, no seu sentido do dever e na sua capacidade de luta. Só podemos aceitar uma vitória total.
            Sorte para todos vocês, implorem a Deus Todo-Poderoso por esta grande e nobre empresa.

                                                         Dwight D. Eisenhower.  in.: KONSALIK, Heinz G. Eles eram dez, 1979 .
           





A REFORMA E AS SOLAS

Reforma Protestante – nome dado ao movimento reformista que surgiu no cristianismo em 1517 por meio do monge agostiniano Martinho Lutero. A ...