quarta-feira, 27 de abril de 2016

GABRIELA

Em 1975 o povo brasileiro se deliciou, através da televisão, aparelho que causava verdadeiro rebu à época, com Gabriela, personagem tão bem vivida na sua primeira versão televisiva, por Sonia Braga. Povoada de regionalismos e muita sensualidade, tanto pelo enredo quanto pelo desempenho e beleza dos atores/interpretes envolvidos, Gabriela marcou uma geração.
Mas marcou, também, por sua música tema, cantada a “peito cheio”  por muitos apreciadores da boa música e da novela. Composição de Dorival Caymmi, é assim a

Modinha para Gabriela

Quando eu vim para este mundo
Eu não atinava em nada
Hoje eu sou Gabriela
Gabriela iê meus camaradas
Eu nasci assim, eu cresci assim
Eu sou mesmo assim
Vou ser sempre assim
Gabriela, sempre Gabriela
Quem me batizou
Quem me iluminou
Pouco se importou
É assim que eu sou
Gabriela, sempre Gabriela
Eu sou sempre igual
Não desejo  mal
Amo o natural
Etecetera e tal
Gabriela, sempre Gabriela.

Caymmi, Dorival.
Modinha para Gabriela
In: Caymmi em Bahia
Rio de Janeiro: Poly Gram/Phillips

1994, CD faixa 14

A Grande Catástrofe

No princípio era o Verbo. O verbo Ser.
Conjugava-se apenas no infinito.
Ser e nada mais.
Intransitivo absoluto.
Isso foi no principio...
Depois transigiu, e muito.
Em vários modos, tempos e pessoas.
Ah, nem queira saber quem são as pessoas:
Eu, tu, ele, nós, vós, eles... Principalmente eles!
E antes dessa dispersão lamentável,
Essa verdadeira explosão do SER em seres.
Até hoje os anjos ingenuamente
Se interrogam por que motivo
As referidas pessoas chamam a isso
De CRIAÇÃO....
In: Caderno H, de Mario Quintana
São Paulo: Editora Globo – Elena Quintana 




O nós e a gente


Essa “explosão do SER” nos chama a atenção para um aspecto muito interessante dos diálogos do momento em que vivemos independentemente de quem sejam os envolvidos: o NÓS foi extinto. Apenas não sabemos se não foi incapaz de acompanhar a evolução de sua “espécie” ou se foi assassinado com propósito uno de tirá-lo de cena.

Jogadores, técnicos, apresentadores, comentaristas, atores e o mais comum dos falantes impessoalizaram os diálogos trocando o “NÓS” por “ A GENTE”. Soa estranho ouvir um atleta dizendo que “a gente jogou mal e por isso...” ou, ainda, um comentarista dizer que “a gente viu um time apático, sem criatividade...”. É, pois, a moda do dia.

Nas escolas nem precisa dizer que os alunos estão “fazendo escola”, pois ouvem a maioria dos seus professores tirando a responsabilidade dos ombros e proclamando a gente...

É possível que o ajuntamento do eu, tu, ele, nós, vós, eles apresente como resultado “a gente”, impessoal, sem necessidade da responsabilidade implicada no nós e criando um tipo típico do século XXI – com perdão pela pobreza do trocadilho.

Vamos conviver com isso por muito tempo ainda, principalmente porque não há erro implícito que seja regido por uma norma no termo. Mas que ouvir um atleta dizendo que “nós jogamos mal e, por isso,...” é mais bonito e soa melhor aos nossos ouvidos já doutrinados para o desleixo para com a nossa língua tão sofrida, isso é.
Do autor do Blog a Rua do Mulambo

A REFORMA E AS SOLAS

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