No princípio era o Verbo. O
verbo Ser.
Conjugava-se apenas no
infinito.
Ser e nada mais.
Intransitivo absoluto.
Isso foi no principio...
Depois transigiu, e muito.
Em vários modos, tempos e
pessoas.
Ah, nem queira saber quem
são as pessoas:
Eu, tu, ele, nós, vós,
eles... Principalmente eles!
E antes dessa dispersão
lamentável,
Essa verdadeira explosão do
SER em seres.
Até hoje os anjos
ingenuamente
Se interrogam por que motivo
As referidas pessoas chamam
a isso
De CRIAÇÃO....
In: Caderno H, de Mario Quintana
São Paulo: Editora Globo – Elena Quintana
O nós e a gente
Essa
“explosão do SER” nos chama a atenção para um aspecto muito interessante dos diálogos
do momento em que vivemos independentemente de quem sejam os envolvidos: o NÓS
foi extinto. Apenas não sabemos se não foi incapaz de acompanhar a evolução de
sua “espécie” ou se foi assassinado com propósito uno de tirá-lo de cena.
Jogadores,
técnicos, apresentadores, comentaristas, atores e o mais comum dos falantes impessoalizaram
os diálogos trocando o “NÓS” por “ A GENTE”. Soa estranho ouvir um atleta
dizendo que “a gente jogou mal e por isso...” ou, ainda, um comentarista dizer
que “a gente viu um time apático, sem criatividade...”. É, pois, a moda do dia.
Nas
escolas nem precisa dizer que os alunos estão “fazendo escola”, pois ouvem a
maioria dos seus professores tirando a responsabilidade dos ombros e
proclamando a gente...
É
possível que o ajuntamento do eu, tu, ele, nós, vós, eles apresente como
resultado “a gente”, impessoal, sem necessidade da responsabilidade implicada
no nós e criando um tipo típico do século XXI – com perdão pela pobreza do
trocadilho.
Vamos
conviver com isso por muito tempo ainda, principalmente porque não há erro
implícito que seja regido por uma norma no termo. Mas que ouvir um atleta
dizendo que “nós jogamos mal e, por isso,...” é mais bonito e soa melhor aos
nossos ouvidos já doutrinados para o desleixo para com a nossa língua tão
sofrida, isso é.
Do autor do Blog a Rua do Mulambo
Nenhum comentário:
Postar um comentário