sexta-feira, 30 de setembro de 2016

poema para alguem distante


Lembranças de ti distante

 

O amor é assim

sente saudades e se exaspera

se entrega à angustia na solidão

sente as necessidades cotidianas

ouvir, tocar, sentir os cheiros

estes cheiros diversos e particulares

que são só teus.

É, o amor é assim...

constante em um momento

desentendido em um outro

enciumando-se e produzindo ciúmes

pelo sorriso, pela roupa, pelos amigos

por aquele olhar – o ciúme faz doer

mas o amor é assim

paciente para uns

sofredor para alguns

e um tanto orgulhoso para outros

- gera impaciência em mim

e me faz ressentido.

Por quê é bom amar

se faz sofrer, se faz doer?

[. . .]

É assim o amor

abstração do quanto teu calor queima

na exasperação dos diversos beijos teus

que acelera e dilacera o coração

o meu

não há satisfação em olhar – isso não basta

o tocar teu corpo sim

“percorrer caminhos

não errando curvas (e, às vezes, errando)

e encontrando atalhos”

no extasiar-se nas montanhas e vales do teu corpo

 escondendo-se a saciar as delicias

de grutas escuras e de prazer.

É assim o amor

cansar-se contigo

e descansar nos teus braços e abraços

sentindo os teus peitos

ao ouvir as batidas do coração

sentindo teu calor ,suando o teu calor

no partilhar do corpo sôfrego, molhado, saciado

conquistando horizontes corporais

descobrindo rotas

desbravando cantos, brechas e orifícios

tu te deixas descobrir e

permite amar no teu amor,

[. . .]

É assim, amor.

quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Em quem eu nao voto


Em quem eu não voto

Não votarei em Joel. Também não votarei em Almir, Moura Fé ou Didi. Estou insatisfeita com a falta de perspectivas. Nenhum desses candidatos significa avanço ou solução; nem tampouco convence. Há ainda um deles que inspira em mim terrível sentimento de mediocridade”. (Da SILVA, K.).

 

Essas palavras, de uma pessoa que me é muito querida, pessoa bem formada no que diz respeito às suas convicções ideológicas, enfim, uma pessoa esclarecida, me chamaram a atenção pela sensação de desapego pela qual a nossa cidade tem passado nos últimos pleitos eleitorais para o cargo executivo municipal.

Ocorre que há tremendo sentido nestas palavras. A cidade de Floriano (Piauí/Brasil) vê a cada nova eleição uma repetição dos nomes anteriores, sempre capitaneada esta repetição por alguém que já esteve à frente cobiçado cargo de prefeito municipal. É claro que isto é permitido como é claro também que a comunidade florianense tem aceitado isso como a coisa mais natural e talvez até mais prazerosa de ser realizada, de ser efetivada, pois sempre vota em um desses nomes. E essa é a beleza da nossa democracia que nos permite escolhermos quem quisermos para nos representar mesmo sendo essa representação defeituosa.

Quando olhamos os últimos 40 anos da nossa história municipal percebemos o quanto as possibilidades de escolha tem-se minimizado, uma vez que nesse período quatro ou cinco nomes se revezam  como mandatários municipais. Quando olhamos o nosso crescimento enquanto cidade em relação à outros do Estado percebemos o quão pouco evoluímos – se é que evoluímos em algum momento. Houve, nesse período uma profissionalização da política em detrimento do desenvolvimento do município.

Voltando à democracia, ela exige, por assim dizer, que votemos nos candidatos que nos “são postos à mesa”. Somos limitados pela normatização do ciclo eleitoral e nos sujeitamos às escolhas de bastidores e conveniência, aos conchavos políticos que fogem as limites do município. Sujeitamo-nos a interesses diversos que nada dizem respeito às nossas vontades e necessidades.

Parecem duras as palavras em epigrafe, mas a realidade que nos é apresentada se nos desperta algum sentimento, este será o de mediocridade, a não ser que estejamos enganados - e não sendo enganados – e o nosso município, nos próximos quatro anos sofra uma explosão de desenvolvimento e grandes realizações. Isso seria bom para todos. Até para os políticos.

Emigrações e as consequências

Neste estilo popular

Nos meus singelos versinhos

O leitor vai encontrar

Em vez de rosas espinhos

Na minha penosa lida

Conheço do mar da vida

As temerosas tormentas

Eu sou o poeta da roça

Tenho mão calosa e grossa

Do cabo das ferramentas.

 

Por força da natureza

Sou poeta nordestino

Porem só conto a pobreza

Do meu mundo pequenino

Eu não sei contar as glórias

Nem também conto as vitórias

Do herói com seu brasão

Nem o mar com suas águas

Só sei contar minhas mágoas

E as mágoas do meu irmão.

[. . .]

Meu bom Jesus Nazareno

Pela vossa majestade

Fazei que cada pequeno

Que vaga pela cidade

Tenha boa  proteção

Tenha em vez de uma prisão

Aquele medonho inferno

Que revolta e desconsola           

Bom conforto e boa escola

Um lápis e um caderno.

 

Patativa do Assaré

Uma voz do Nordeste

São Paulo: Hedra, 2000

 

 

 

 

Filhos da época

Somos filhos da época

e a época é a política.

Todas as tuas, nossas, vossas coisas

diurnas e noturnas,

são coisas políticas.

Querendo ou não, querendo,

teus genes tem um passado político,

tua pele, um matiz político,

teus olhos, um aspecto político.

O que você diz tem ressonância,

o que silencia tem um eco

de um jeito ou de outro, politico.

[. . . ]

Wislawa Szymborska. Poemas

 

Voz ativa

Todos tem uma voz

alta, baixa, aguda, grave

rouca, intensa, suave

 

todos tem uma voz

só que muitos não a usam

com medo  de tudo e de todos

 

e assim deixam que outra

que não sua mas de outro

Tome então o seu lugar

 

e saem por aí dizendo coisas

que na real não acreditam

mas que não tem força de evitar

 

porque sua voz foi vendida

é o novo dono quem fala

e a voz verdadeira, silenciada

 

torcendo pra que ele quebre

de repente a mordaça do medo

e fale aquilo que sempre quis

 

 

então quem falava por ele

baterá rapidinho em retirada

e a voz será de novo de quem fala.

 

CHACAL. Murundum. São Paulo:

Companhia das Letras, 2012, p. 12

 

 

 

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Quando observamos o nosso calendário, com sua imensidão de feriados, percebemos que há muitas comemorações e homenagens. Homenageamos o dia da mulher, o dia dos pais o dia de Tiradentes, o dia das mães, a proclamação da república, todos os santos, o descobrimento do Brasil, o 7 de  setembro, diversos feriados religiosos etc. faz parte do nosso ideário, da nossa cultura, do nosso apreço por homenagens.

Carlos Victor Dantas Araújo, a quem não conheço pessoalmente, aluno, na ocasião do seu feito da EMEF Urcesina Moura Cantídio, em Alto Santo (CE), fez uma homenagem interessantíssima e que merece que nós reconheçamos o valor do seu feito: ele homenageia as Marias, de um modo geral e, particularmente, as do seu lugar. Ficou um belo trabalho e por essa beleza e simplicidade o parabenizo  e o “homenageio”, ao tempo em que

 Ouso fazer uso do seu trabalho publicando-o no meu espaço de comunicação e interação.

 

As Marias do meu lugar

 

I

Minha terra é pequenina

Fica aqui no Ceará

No vale do Jaguaribe

Alto Santo aqui está

No Comando das Marias

Que progride este lugar

 

II

 

Tem Maria sertaneja

Valente feito um trovão

Daquele que desde cedo

Faz o cultivo do chão

E a Maria tratorista

Que ajuda na plantação

 

III

 

Tem Maria lá na Câmara

Que é  a  vereadora

Tem Maria que cedinho

Limpa a rua com a vassoura

Tem aquela que ensina

A Maria professora

 

IV

 

A Maria forrozeira

Rodeia feito pião

Tem a Maria louceira

Transforma o barro com a mão

E a Maria morena

Com corpo de violão

 

V

 

Maria que no mercado

Vende o quente e o frio

E a Maria lavadeira

Faz espuma lá no rio

E a Maria açougueira

Com a faca faz desafio

 

VI

 

Maria no Hospital

A Maria enfermeira

Lá na fábrica de tecidos

A Maria costureira

E aqui na minha casa

A Maria verdadeira

 

VII

 

Lá no altar da igreja

Maria diz o amém

Implora ao padroeiro

Para todos viver bem

A mãe do Menino Deus

Que é Maria também

VIII

 

Ah! Se em todo lugar tivesse

Assim tantas alegrias

E que fosse como o meu

Nessa paz do dia a dia

Que  faz o calor do sol

Dar força a essas Marias.

 

Carlos Victor D. Araújo

Alto Santo (CE).

 

 

domingo, 4 de setembro de 2016

Os nossos desvios morais que nos incomodam

Nos últimos dias temos ouvido e falado muito em corrupção. Falamos e ouvimos tanto que, em menos de um ano, destronamos uma presidente da república e tiramos da cadeira um presidente da câmara federal – uma das casas do Congresso Nacional. Corrupção passou a fazer parte do cotidiano de todos aqueles que bradam em alto e bom som “eu sou brasileiro, com muito orgulho e com muito amor” e que, em tal condição, “não desistem nunca”. Abaixo, portanto, a corrupção, o nosso mal do século.
É sabido que esse não é um problema só nosso. Não somos os únicos a discutir e se preocupar com a temática. Muitos países detentores da condição de pertencerem ao que chamamos de primeiro mundo (os nomes serão preservados pelo zelo da integridade de cada um – fato válido também quando se discute corrupção, corruptores e correlatos). No nosso caso, as rodas de samba, o grupo reunido que antes só discutia futebol ou mulheres bonitas – outro tema “abundante” em Terras Brasillis – e até estudantes discutem sobre a questão do corrompimento. Não há nada de errado nisso, afinal temos que discutir mesmo o que nos incomoda.
Por ser o tema do momento, ainda que seu desfecho deu-se no mês passado (ago./2016, quando a presidente caiu) recorremos a um pensamento especializado intuindo entender melhor uma temática que tem mexido tanto com o nosso orgulho “de ser brasileiro”.
Segundo Bueno (1995) corrupção é “depravação; suborno; desmoralização” e o seu desdobramento corromper importa emestragar; desnaturar; infectar; perverter física e moralmente; adulterar” (págs. 304/5).
Entendendo a depravação como sendo degeneração mórbida (BUENO, 1995) o corrupto é um degenerado que se estragou, que deixou de ser natural. É perverter valores morais, segundo o autor supracitado. A partir do exposto a dura verdade é que todos nós somos corruptos e nos corrompemos diuturnamente. Vejamos, pois, como se processa tal fenômeno em nós que estamos tão indignados com a onda de corrupção que assola nossas hostes:
Quando furamos uma fila estamos nos corrompendo – claro!; talvez seja algo pequenino que por ser pequeno nunca nos incomoda – mas é corrupção; quando aceitamos uma “oncinha” ou uma “garoupa”, e isso depende muito do valor que damos a nós mesmos e ao nosso voto, para votar no candidato X; quando recebemos um troco a mais; quando saltamos do ônibus sem pagar a tarifa; quando pesamos com dez ou vinte gramas de diferença a nosso favor e, já que falamos nos estudantes, quando colamos nas nossas avaliações. Se agimos assim estamos nos estragando e nos desmoralizando. Saímos do estado natural na promoção dos nossos aconteceres e entramos em processo de depravação total. Dura verdade essa que ainda não havíamos nos debruçado sobre ela para um simples meditar; para uma reflexão.
Resta-nos então – e essa é outra verdade “debruçavel” – pensar bem antes de dizer que o alfabeto todo está estragado, corrompido, vez que não dá, ante o que foi colocado como práticas estragáveis, para apontarmos apenas “A”; “B” ou “C” como corruptos e (ou) como agentes corruptores. Aliás, a propósito do que devemos perceber, pensemos no que o grande Mestre (para os cristãos) ensinou: “tira a sujeira do teu olho para que vejas melhor” (MT.7:5).
Nossos representantes cercearam o direito de uma presidente eleita por nós e destituíram um deputado presidente da câmara também falando por nós, sendo o que nós queríamos ou não. Importa que falaram em nosso nome e os apontamos como corruptos o que prova que não concordamos com seus comportamentos. Comportemo-nos, pois, melhores.
           Digamos não à corrupção. Não há outra coisa a ser feita a não ser olharmos para nós mesmos. Façamos isso.

A REFORMA E AS SOLAS

Reforma Protestante – nome dado ao movimento reformista que surgiu no cristianismo em 1517 por meio do monge agostiniano Martinho Lutero. A ...