Em quem eu não voto
“Não votarei em Joel. Também não votarei em Almir,
Moura Fé ou Didi. Estou insatisfeita com a falta de perspectivas. Nenhum desses
candidatos significa avanço ou solução; nem tampouco convence. Há ainda um
deles que inspira em mim terrível sentimento de mediocridade”. (Da SILVA, K.).
Essas palavras, de uma
pessoa que me é muito querida, pessoa bem formada no que diz respeito às suas
convicções ideológicas, enfim, uma pessoa esclarecida, me chamaram a atenção
pela sensação de desapego pela qual a nossa cidade tem passado nos últimos
pleitos eleitorais para o cargo executivo municipal.
Ocorre que há tremendo
sentido nestas palavras. A cidade de Floriano (Piauí/Brasil) vê a cada nova
eleição uma repetição dos nomes anteriores, sempre capitaneada esta repetição
por alguém que já esteve à frente cobiçado cargo de prefeito municipal. É claro
que isto é permitido como é claro também que a comunidade florianense tem
aceitado isso como a coisa mais natural e talvez até mais prazerosa de ser realizada,
de ser efetivada, pois sempre vota em um desses nomes. E essa é a beleza da
nossa democracia que nos permite escolhermos quem quisermos para nos
representar mesmo sendo essa representação defeituosa.
Quando olhamos os últimos 40
anos da nossa história municipal percebemos o quanto as possibilidades de
escolha tem-se minimizado, uma vez que nesse período quatro ou cinco nomes se
revezam como mandatários municipais.
Quando olhamos o nosso crescimento enquanto cidade em relação à outros do
Estado percebemos o quão pouco evoluímos – se é que evoluímos em algum momento.
Houve, nesse período uma profissionalização da política em detrimento do
desenvolvimento do município.
Voltando à democracia, ela
exige, por assim dizer, que votemos nos candidatos que nos “são postos à mesa”.
Somos limitados pela normatização do ciclo eleitoral e nos sujeitamos às
escolhas de bastidores e conveniência, aos conchavos políticos que fogem as
limites do município. Sujeitamo-nos a interesses diversos que nada dizem
respeito às nossas vontades e necessidades.
Parecem duras as palavras em
epigrafe, mas a realidade que nos é apresentada se nos desperta algum
sentimento, este será o de mediocridade, a não ser que estejamos enganados - e
não sendo enganados – e o nosso município, nos próximos quatro anos sofra uma
explosão de desenvolvimento e grandes realizações. Isso seria bom para todos. Até
para os políticos.
Emigrações e as consequências
Neste estilo
popular
Nos meus
singelos versinhos
O leitor vai
encontrar
Em vez de
rosas espinhos
Na minha
penosa lida
Conheço do
mar da vida
As temerosas
tormentas
Eu sou o
poeta da roça
Tenho mão
calosa e grossa
Do cabo das
ferramentas.
Por força da
natureza
Sou poeta
nordestino
Porem só
conto a pobreza
Do meu mundo
pequenino
Eu não sei contar
as glórias
Nem também
conto as vitórias
Do herói com
seu brasão
Nem o mar
com suas águas
Só sei
contar minhas mágoas
E as mágoas
do meu irmão.
[. . .]
Meu bom
Jesus Nazareno
Pela vossa
majestade
Fazei que
cada pequeno
Que vaga
pela cidade
Tenha boa proteção
Tenha em vez
de uma prisão
Aquele
medonho inferno
Que revolta e desconsola
Bom conforto e boa escola
Um lápis e um caderno.
Patativa do Assaré
Uma voz do Nordeste
São Paulo: Hedra, 2000
Filhos da época
Somos filhos
da época
e a época é
a política.
Todas as
tuas, nossas, vossas coisas
diurnas e
noturnas,
são coisas
políticas.
Querendo ou
não, querendo,
teus genes
tem um passado político,
tua pele, um
matiz político,
teus olhos,
um aspecto político.
O que você
diz tem ressonância,
o que
silencia tem um eco
de um jeito
ou de outro, politico.
[. . . ]
Wislawa Szymborska. Poemas
Voz ativa
Todos tem
uma voz
alta, baixa,
aguda, grave
rouca,
intensa, suave
todos tem
uma voz
só que
muitos não a usam
com
medo de tudo e de todos
e assim
deixam que outra
que não sua
mas de outro
Tome então o
seu lugar
e saem por
aí dizendo coisas
que na real
não acreditam
mas que não
tem força de evitar
porque sua
voz foi vendida
é o novo
dono quem fala
e a voz
verdadeira, silenciada
torcendo pra
que ele quebre
de repente a
mordaça do medo
e fale
aquilo que sempre quis
então quem
falava por ele
baterá
rapidinho em retirada
e a voz será
de novo de quem fala.
CHACAL. Murundum. São Paulo:
Companhia das Letras, 2012, p. 12
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Quando observamos o nosso
calendário, com sua imensidão de feriados, percebemos que há muitas
comemorações e homenagens. Homenageamos o dia da mulher, o dia dos pais o dia
de Tiradentes, o dia das mães, a proclamação
da república, todos os santos, o descobrimento do Brasil, o 7 de setembro, diversos feriados religiosos etc.
faz parte do nosso ideário, da nossa cultura, do nosso apreço por homenagens.
Carlos Victor Dantas Araújo,
a quem não conheço pessoalmente, aluno, na ocasião do seu feito da EMEF
Urcesina Moura Cantídio, em Alto Santo (CE), fez uma homenagem
interessantíssima e que merece que nós reconheçamos o valor do seu feito: ele
homenageia as Marias, de um modo geral e, particularmente, as do seu lugar. Ficou
um belo trabalho e por essa beleza e simplicidade o parabenizo e o “homenageio”, ao tempo em que
Ouso fazer uso do seu trabalho publicando-o no
meu espaço de comunicação e interação.
As Marias do meu lugar
I
Minha terra é pequenina
Fica aqui no Ceará
No vale do Jaguaribe
Alto Santo aqui está
No Comando das Marias
Que progride este lugar
II
Tem Maria sertaneja
Valente feito um trovão
Daquele que desde cedo
Faz o cultivo do chão
E a Maria tratorista
Que ajuda na plantação
III
Tem Maria lá na Câmara
Que é
a vereadora
Tem Maria que cedinho
Limpa a rua com a vassoura
Tem aquela que ensina
A Maria professora
IV
A Maria forrozeira
Rodeia feito pião
Tem a Maria louceira
Transforma o barro com a mão
E a Maria morena
Com corpo de violão
V
Maria que no mercado
Vende o quente e o frio
E a Maria lavadeira
Faz espuma lá no rio
E a Maria açougueira
Com a faca faz desafio
VI
Maria no Hospital
A Maria enfermeira
Lá na fábrica de tecidos
A Maria costureira
E aqui na minha casa
A Maria verdadeira
VII
Lá no altar da igreja
Maria diz o amém
Implora ao padroeiro
Para todos viver bem
A mãe do Menino Deus
Que é Maria também
VIII
Ah! Se em todo lugar tivesse
Assim tantas alegrias
E que fosse como o meu
Nessa paz do dia a dia
Que
faz o calor do sol
Dar força a essas Marias.
Carlos Victor D. Araújo
Alto Santo (CE).