domingo, 4 de setembro de 2016

Os nossos desvios morais que nos incomodam

Nos últimos dias temos ouvido e falado muito em corrupção. Falamos e ouvimos tanto que, em menos de um ano, destronamos uma presidente da república e tiramos da cadeira um presidente da câmara federal – uma das casas do Congresso Nacional. Corrupção passou a fazer parte do cotidiano de todos aqueles que bradam em alto e bom som “eu sou brasileiro, com muito orgulho e com muito amor” e que, em tal condição, “não desistem nunca”. Abaixo, portanto, a corrupção, o nosso mal do século.
É sabido que esse não é um problema só nosso. Não somos os únicos a discutir e se preocupar com a temática. Muitos países detentores da condição de pertencerem ao que chamamos de primeiro mundo (os nomes serão preservados pelo zelo da integridade de cada um – fato válido também quando se discute corrupção, corruptores e correlatos). No nosso caso, as rodas de samba, o grupo reunido que antes só discutia futebol ou mulheres bonitas – outro tema “abundante” em Terras Brasillis – e até estudantes discutem sobre a questão do corrompimento. Não há nada de errado nisso, afinal temos que discutir mesmo o que nos incomoda.
Por ser o tema do momento, ainda que seu desfecho deu-se no mês passado (ago./2016, quando a presidente caiu) recorremos a um pensamento especializado intuindo entender melhor uma temática que tem mexido tanto com o nosso orgulho “de ser brasileiro”.
Segundo Bueno (1995) corrupção é “depravação; suborno; desmoralização” e o seu desdobramento corromper importa emestragar; desnaturar; infectar; perverter física e moralmente; adulterar” (págs. 304/5).
Entendendo a depravação como sendo degeneração mórbida (BUENO, 1995) o corrupto é um degenerado que se estragou, que deixou de ser natural. É perverter valores morais, segundo o autor supracitado. A partir do exposto a dura verdade é que todos nós somos corruptos e nos corrompemos diuturnamente. Vejamos, pois, como se processa tal fenômeno em nós que estamos tão indignados com a onda de corrupção que assola nossas hostes:
Quando furamos uma fila estamos nos corrompendo – claro!; talvez seja algo pequenino que por ser pequeno nunca nos incomoda – mas é corrupção; quando aceitamos uma “oncinha” ou uma “garoupa”, e isso depende muito do valor que damos a nós mesmos e ao nosso voto, para votar no candidato X; quando recebemos um troco a mais; quando saltamos do ônibus sem pagar a tarifa; quando pesamos com dez ou vinte gramas de diferença a nosso favor e, já que falamos nos estudantes, quando colamos nas nossas avaliações. Se agimos assim estamos nos estragando e nos desmoralizando. Saímos do estado natural na promoção dos nossos aconteceres e entramos em processo de depravação total. Dura verdade essa que ainda não havíamos nos debruçado sobre ela para um simples meditar; para uma reflexão.
Resta-nos então – e essa é outra verdade “debruçavel” – pensar bem antes de dizer que o alfabeto todo está estragado, corrompido, vez que não dá, ante o que foi colocado como práticas estragáveis, para apontarmos apenas “A”; “B” ou “C” como corruptos e (ou) como agentes corruptores. Aliás, a propósito do que devemos perceber, pensemos no que o grande Mestre (para os cristãos) ensinou: “tira a sujeira do teu olho para que vejas melhor” (MT.7:5).
Nossos representantes cercearam o direito de uma presidente eleita por nós e destituíram um deputado presidente da câmara também falando por nós, sendo o que nós queríamos ou não. Importa que falaram em nosso nome e os apontamos como corruptos o que prova que não concordamos com seus comportamentos. Comportemo-nos, pois, melhores.
           Digamos não à corrupção. Não há outra coisa a ser feita a não ser olharmos para nós mesmos. Façamos isso.

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