O texto a
seguir foi extraído do livro de Alves;
Belisário (2004) e se encontra transcrito na sua forma original, daí se
verificar linguagem rebuscada que se caracteriza em deformação semântico/ortografico.
O
propósito, em se mantendo sua forma original, é aproximar o leitor da linguagem
coloquial do homem do interior e somente isso. A cultura interiorana, a forma
de falar do “matuto” é conveniente ao conhecimento e o texto aqui se torna, em
função disso, interessante e agradável. Não é apologia; trata-se apenas de uma
fora gostosa de ler sobre o pensamento do nordestino sobre “poliça”, cangaço e
outros afins. Boa leitura para todos.
Um
fazendeiro nordestino fala do cangaço.
--
Quero mais ante me ver neste oco do mundo, às volta com bandidos que com
soldado de poliça. Me creia que os mata-cachorrro quando sai da capital, veem
com o pensamento fixo em que todo matuto protege cangaceiro. Querem, por fina
força, que a gente descubra o roteiro dos criminosos. Si o freguez diz que
inguinora, apanha para descobrir; e descobre também apanha, proque é sinal que,
conhecendo, protege quem eles caçam... ninguém escapa...
E os bandoleiros?
Abém, esses estão no seu papel... A não ser um ou outro cabra desalmado, eles só
fazem mal a nós quando andam aperreados pela poliça, quando desconfiam que se
deu notícia deles à tropa do governo.
Mas, se os policiais cometem abusos, porque
os senhores não os denunciam às autoridades?
Só se fosse maluco! Ter
questão com soldado é ter questão com o gunverno, e ter questão com o gunverno
é não ter amor à vida. Um tenente no sertão manda mais que um Juiz de Direito.
Si dependesse de mim, o gunverno não mandava força pro interior. A gente ficava
só com os cangaceiros, era só uma desgraça em vez de duas... Muito
despropósito, muito abissurdo que se cuida, por ahí afora, que foi feito por
cangaceiro uma ova; foi, mas – a poliça!... Ninguém é besta para negar comida,
roupa, cigarro ou cachaça a cangaceiro. Pra que diabo, então, é que bandido
quer dinheiro? Só pode ser pra comprar a poliça que lhe arranja munição... (os
soldados) acoitam, prendem, judiam, desonram matam tocam fogo, robam, fazem
tudo que é espritação do demônio. Imitam os bandidos desde o procedimento até
os traje e modo presepeiro de se armarem... São assim covardes, não querem
topar com quem perseguem, mas fazem o justo pagar pelo pecador. O que mais
raiva me faz é saber que só pobres sem defesa é que padece...
(FACÓ,
Rui. Cangaceiross e fanáticos. In:
ALVES, Kátia Corrêa Peixoto; BELISÁRIO, Regina Célia de Moura Gomide. Diálogos
com a história. História – 8ª série. – Curitiba: Nova Didática, 2004).
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Quero mais ante me ver neste oco do mundo, às volta com bandidos que com
soldado de poliça. Me creia que os mata-cachorrro quando sai da capital, veem
com o pensamento fixo em que todo matuto protege cangaceiro. Querem, por fina
força, que a gente descubra o roteiro dos criminosos. Si o freguez diz que
inguinora, apanha para descobrir; e descobre também apanha, proque é sinal que,
conhecendo, protege quem eles caçam... ninguém escapa...
E os bandoleiros?
Abém, esses estão no seu papel... A não ser um ou outro cabra desalmado, eles só
fazem mal a nós quando andam aperreados pela poliça, quando desconfiam que se
deu notícia deles à tropa do governo.
Mas, se os policiais cometem abusos, porque
os senhores não os denunciam às autoridades?
Só se fosse maluco! Ter
questão com soldado é ter questão com o gunverno, e ter questão com o gunverno
é não ter amor à vida. Um tenente no sertão manda mais que um Juiz de Direito.
Si dependesse de mim, o gunverno não mandava força pro interior. A gente ficava
só com os cangaceiros, era só uma desgraça em vez de duas... Muito
despropósito, muito abissurdo que se cuida, por ahí afora, que foi feito por
cangaceiro uma ova; foi, mas – a poliça!... Ninguém é besta para negar comida,
roupa, cigarro ou cachaça a cangaceiro. Pra que diabo, então, é que bandido
quer dinheiro? Só pode ser pra comprar a poliça que lhe arranja munição... (os
soldados) acoitam, prendem, judiam, desonram matam tocam fogo, robam, fazem
tudo que é espritação do demônio. Imitam os bandidos desde o procedimento até
os traje e modo presepeiro de se armarem... São assim covardes, não querem
topar com quem perseguem, mas fazem o justo pagar pelo pecador. O que mais
raiva me faz é saber que só pobres sem defesa é que padece...
(FACÓ,
Rui. Cangaceiros e fanáticos. In:
ALVES, Kátia Corrêa Peixoto; BELISÁRIO, Regina Célia de Moura Gomide. Diálogos
com a história. História – 8ª série. – Curitiba: Nova Didática, 2004).
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