REBELDES
EM SOCOPO
O Geração Escolhida
é um grupo de interação. Desde a sua criação tem-se voltado para aproximar
velhos conhecidos que se encontram distantes, tem reavivado imagens e “feições”
esquecidas pelo tempo, através de fotografias (as de antigamente duravam
perfeitas) e faz com que laços de amizades sejam atados e reatados, o que tem
contribuído para o engrandecimento e comunhão de seus participantes.
Ressalte-se ainda a necessidade desse aproximamento em função de a maior parte
do grupo ser de remanescentes das década de 1970 e 1980 – na época, brotinhos,
hoje avós, senão todos mas a maioria – e que se distanciaram por força das suas
responsabilidades pessoais, de trabalho, etc.
Esse grupo tem história porque fez história. Quando se
encontravam, todos se destacavam por suas características particulares a
serviço do Senhor do encontro – JESUS – o motivador das vidas. O hoje pr.
Guimarães, por exemplo, à época era “guima”, alcunha do famoso (entre as meninas)
Antônio Luís Guimarães Missias – é claro que os concorrentes não gostavam do
seu sucesso entre as “minas”. Este era quem geralmente dirigia as peças cômicas
nos momentos sociais, ainda que em algumas situações fosse repreendido por seus
“exageros” teatrais, por parte da morena Maria Do Carmo. Ivete Martins – antes
Ribeiro Mota, era líder em potencial. Arrebanhava, cativava e, quando preciso,
corrigia alguém que ao menos tentasse sair da linha. Elias era o líder
namorador; arranjava tempo para as duas coisas, mesmo que parecesse mais um
cipó de tipi de tão magro, havia quem gostasse...; Havia também o Sampaio,
sempre simpático e pronto para deixar a sua turma sempre alerta. Também líder;
também namorador. E conseguia tocar violão quando sobrava tempo. Além desses,
se sobressaiam outros. Muitos outros, para ser mais exato.
Diversas histórias podem ser contadas de acontecimentos
motivados pela mistura de todos esses “gênios” que compunham a massa cristã
reunida em Socopo a cada meio de ano. Inteligências e qualidades misturadas
geram criatividades nem sempre bem entendidas. Foi o que aconteceu no acampamento de 1977.
Todos os participantes de acampamentos daquela geração
sabem que se ia à Socopo por vários motivos: louvor e adoração, aprendizado,
encontro com amigos, namoro (muitos casamentos começaram ali)... e as
brincadeiras nas sociais noturnas. Quem
não rodou cantando “três solteiros a passear”; ‘minha sabiá, minha
sabelê” (até hoje se tenta descobrir o que seria uma sabelê) ou “um belo
cachorrinho sentado na janela” ? – diga-se de passagem que o nome do
cachorrinho da janela era bingo. Era porque ele deixou de existir no seio dos
irmãos hoje em dia ; ninguém brinca mais disso; não tem graça.
Foi nesse clima que se chegou ao acampamento no ano citado.
Só que ninguém se lembrou de combinar a programação noturna com “Jorjão”, o
americano diretor linha-dura do encontro. Ele já decidira que não haveria
social naqueles dias. Não nos moldes de brincar até depois da meia-noite. Sua
atitude repressiva – termo emprestado da Ditadura Militar – deu lugar ao outro
diretor, este de sociabilidade, Guimarães, a exercitar a sua liderança em campo
diferente. Literalmente.
Quando todos já se encontravam nas suas acomodações
noturnas e esperando apenas caírem nos braços de Morfeu , enquanto o grupo de pastores subia o Morro da Vitória para
momento de oração, Guimarães se dispôs a arrebanhar um grupo de rebeldes que deveriam “mostrar à direção
do acampamento que estavam insatisfeitos com a tal de atitude repressor”.
Entre os que ouviram e acompanharam o líder social rebelde
estavam Domício Almeida, Juvenal Braúna (in
memorian), Davi (de Teresina), Jarbas Filho, Daniel Almeida, este que
escreve, etc. Não é lembrado se Elias e Davi Valentin seguiu o líder, o certo é
que, ao todo, dez compunham o grupo que sairia do sitio em atitude que se esperava
ser furtiva, indo sentarem-se para tocar violão no mangueiral do outro lado da
pista em Socopo. Mas foram vistos saindo! E o observador se propôs a
interromper o momento de oração e dedurar o ousado grupo de insatisfeitos. Aí a
correria começou.
Na “caçada” aos fujões carros desceram em direção à cidade;
carros subiram na direção oposta, com todos imbuídos na missão de encontrar
àqueles que ousaram quebrar o sistema de segurança do sitio e escapar para
outras paragens. O mérito da busca e apreensão, depois de muito vai-e-vem,
coube ao Pr. Mário Gomes de Barros, diplomata por excelência, que depois de longa
conversa com um apoplético Pr. George, conseguiu livrar a cabeça de todos. Mas
a noite continuaria animada. Se a saída pode ser considerada um fiasco, os
cochichos e dedos apontando depois faria com que todos – os que se rebelaram – se sentissem heróis,
principalmente no meios dos que foram ao acampamento pela primeira vez.
Mas os diretores não acharam graça nenhuma no feito e
decidiram que todos seriam punidos sendo suspensos de participar nos encontros
futuros em Teresina, em Socopo. Esta decisão entristeceu a todos, mas, mesmo a
esse custo, fortaleceu o grupo, não só aos que saíram e sim de um modo geral.
Entretanto, uma reunião organizada próximo ao acampamento seguinte anistiou a
todos e um “edital foi publicado”, concedendo aos transgressores o direito de participar
do encontro em 1978. Que alegria!
Vale a pena lembrar. Ou não?
Por: Zenral, 2017.