sábado, 22 de abril de 2017

CARTA P/ ELA

Recentemente, foi  pedido a um jovem candidato a uma vaga em uma importante empresa, que este escrevesse, como requisito de adesão, uma carta. Esclareceram-lhe que o tema era livre, ou seja, o candidato escreveria sobre o que bem lhe aprouvesse, e sua carta ficou assim:

De qualquer lugar desse imenso Brasil, 21/abril/ de tempos idos.

Oi, menina. Saudades!

Possivelmente seja uma surpresa para ti eu voltar, depois de tantos anos a escrever-te novamente. É certo que já escrevi outras vezes como é certo, também, que tu sempre esperavas minhas cartas do mesmo modo em que eu ansiava as tuas, o que não é como nesse instante. Te confesso que para mim também é surpresa que eu esteja com caneta e papel na mão e que esteja escrevendo uma missiva endereçada a ti.
A verdade, como nós dois sabemos, muito tempo se passou desde as ultimas correspondências trocadas entre nós. Parece, no entanto, que o tempo – algo em torno de trinta anos – não foi o suficiente para te apagar da minha memória, quiçá do meu coração e a prova dessa minha afirmação é que, tendo encontrado como te localizar, empenhei-me em ti dar noticias.
Não espero que tu te enchas de alegria ante o que estou fazendo. De modo algum. Não espero ainda por nenhum tipo de perdão ou de aceite de desculpas pela maneira como saí por aí sem te anunciar ou manifestar qualquer sentimento de consideração, ao ponto de te avisar que ia e para onde. Falhei neste fim. Tenho a meu favor – assim espero – a falta de experiência de alguém maduro, já pronto a saber lidar com situações equivalentes à nossa, o que me remete a uma musica posterior à nossa despedida, se é que esta tenha acontecido, mas que tem muito a ver com o que estava acontecendo. Diz a letra da canção;
“Apenas você tem o dom de mudar meu destino,
é só me tocar com teus olhos e pareço um menino.
Deitado em teu colo o mundo não me surpreende,
Sou homem maduro mas na tua frente
Pareço um menino”.

Creio que tive oportunidade de mudar muitos aspectos da minha vida naquele momento. Poderia ter confiado mais em ti; ter me imbuído de responsabilidades – a idade já me permitia que assim fosse – e reconhecido a dedicação, o respeito e o carinho (note que omiti amor) que devotavas a mim. Não assumi uma postura adequada a um homem. Sempre me comportei como um menino na tua presença. Agi mal!
Talvez estejas a perguntar  razão de, tanto tempo depois, eu ti escrever sobre essas coisas. É provável que nem consiga entender, mas tentarei te explicar.
Como eu disse anteriormente não estou a procurar por indulgencia. De modo algum! Sabemos, tu e eu, no entanto, que o tempo fez, em parte, seu papel nos tornando adultos e nos dando oportunidades a ambos de várias formas. Em um aspecto, porém, ele – o tempo – se mostrou violento: não nos fez esquecer que um dia nos conhecemos e que fomos significativos um na vida do outro. Oportunidade de deixar o esquecimento prevalecer, tivemos – eu tive. Não sei se quis e sempre me dediquei a ter noticias tuas, a ti procurar para, ao menos saber se estavas bem. Obstante a isso, por duas vezes estive próximo a ti e vendo que estavas bem, parti sem me deixar ver.
Alegra-me que tenhas conseguido a graça de estar bem em vários aspectos da tua vida. Sempre te quis muito bem, assim como sempre te devotei o melhor dos meus  sentimentos. Só me afastei por entender que buscavas mundos maiores que os meus; que querias o que, no momento (e hoje ainda) eu não poderia te dar. E foi assim e por isso que desapareci dos teus caminhos apesar de sempre saber para onde ias.
Creio que estou bem. Esforcei-me muito e aprendi a encarar a vida de frente, com todas as suas nuances, com todos os seus obstáculos e com suas diversas matizes. Andei muito, me diverti e sorri bastante. Mas chorei outros  tantos. Não sei se me tornei melhor; não creio. Mas sei que enfrentei melhor as situações.
Finalizando resta te dizer que as dificuldades atingiram também a minha vida espiritual, mas, pela graça do Senhor, jamais deixei de reconhecê-lo como fundamental na minha vida. Tenho chegado até aqui pela Sua permissão.
Assim, fico por aqui. Já muito tenho tomado da tua atenção. Desculpa-me apenas por isso. Desejo-te o melhor que se possa querer com amor e pelo amor, com muito respeito e carinho,

                  De quem conheces bem.





Nenhum comentário:

Postar um comentário

A REFORMA E AS SOLAS

Reforma Protestante – nome dado ao movimento reformista que surgiu no cristianismo em 1517 por meio do monge agostiniano Martinho Lutero. A ...