Recentemente, foi pedido a um jovem candidato a uma vaga em uma importante empresa, que este escrevesse, como requisito de adesão,
uma carta. Esclareceram-lhe que o tema era livre, ou seja, o candidato escreveria
sobre o que bem lhe aprouvesse, e sua carta ficou assim:
De
qualquer lugar desse imenso Brasil, 21/abril/ de tempos idos.
Oi,
menina. Saudades!
Possivelmente
seja uma surpresa para ti eu voltar, depois de tantos anos a escrever-te
novamente. É certo que já escrevi outras vezes como é certo, também, que tu
sempre esperavas minhas cartas do mesmo modo em que eu ansiava as tuas, o que
não é como nesse instante. Te confesso que para mim também é surpresa que eu
esteja com caneta e papel na mão e que esteja escrevendo uma missiva endereçada
a ti.
A
verdade, como nós dois sabemos, muito tempo se passou desde as ultimas
correspondências trocadas entre nós. Parece, no entanto, que o tempo – algo em
torno de trinta anos – não foi o suficiente para te apagar da minha memória,
quiçá do meu coração e a prova dessa minha afirmação é que, tendo encontrado
como te localizar, empenhei-me em ti dar noticias.
Não
espero que tu te enchas de alegria ante o que estou fazendo. De modo algum. Não
espero ainda por nenhum tipo de perdão ou de aceite de desculpas pela maneira
como saí por aí sem te anunciar ou manifestar qualquer sentimento de
consideração, ao ponto de te avisar que ia e para onde. Falhei neste fim. Tenho
a meu favor – assim espero – a falta de experiência de alguém maduro, já pronto
a saber lidar com situações equivalentes à nossa, o que me remete a uma musica
posterior à nossa despedida, se é que esta tenha acontecido, mas que tem muito
a ver com o que estava acontecendo. Diz a letra da canção;
“Apenas você tem o dom de mudar meu destino,
é só me tocar com teus olhos e pareço um menino.
Deitado em teu colo o mundo não me surpreende,
Sou homem maduro mas na tua frente
Pareço um menino”.
Creio
que tive oportunidade de mudar muitos aspectos da minha vida naquele momento.
Poderia ter confiado mais em ti; ter me imbuído de responsabilidades – a idade
já me permitia que assim fosse – e reconhecido a dedicação, o respeito e o
carinho (note que omiti amor) que devotavas a mim. Não assumi uma postura
adequada a um homem. Sempre me comportei como um menino na tua presença. Agi
mal!
Talvez
estejas a perguntar razão de, tanto
tempo depois, eu ti escrever sobre essas coisas. É provável que nem consiga
entender, mas tentarei te explicar.
Como
eu disse anteriormente não estou a procurar por indulgencia. De modo algum!
Sabemos, tu e eu, no entanto, que o tempo fez, em parte, seu papel nos tornando
adultos e nos dando oportunidades a ambos de várias formas. Em um aspecto,
porém, ele – o tempo – se mostrou violento: não nos fez esquecer que um dia nos
conhecemos e que fomos significativos um na vida do outro. Oportunidade de
deixar o esquecimento prevalecer, tivemos – eu tive. Não sei se quis e sempre
me dediquei a ter noticias tuas, a ti procurar para, ao menos saber se estavas
bem. Obstante a isso, por duas vezes estive próximo a ti e vendo que estavas
bem, parti sem me deixar ver.
Alegra-me
que tenhas conseguido a graça de estar bem em vários aspectos da tua vida.
Sempre te quis muito bem, assim como sempre te devotei o melhor dos meus sentimentos. Só me afastei por entender que
buscavas mundos maiores que os meus; que querias o que, no momento (e hoje
ainda) eu não poderia te dar. E foi assim e por isso que desapareci dos teus
caminhos apesar de sempre saber para onde ias.
Creio
que estou bem. Esforcei-me muito e aprendi a encarar a vida de frente, com
todas as suas nuances, com todos os seus obstáculos e com suas diversas
matizes. Andei muito, me diverti e sorri bastante. Mas chorei outros tantos. Não sei se me tornei melhor; não
creio. Mas sei que enfrentei melhor as situações.
Finalizando
resta te dizer que as dificuldades atingiram também a minha vida espiritual,
mas, pela graça do Senhor, jamais deixei de reconhecê-lo como fundamental na
minha vida. Tenho chegado até aqui pela Sua permissão.
Assim,
fico por aqui. Já muito tenho tomado da tua atenção. Desculpa-me apenas por
isso. Desejo-te o melhor que se possa querer com amor e pelo amor, com muito
respeito e carinho,
De quem conheces bem.
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