terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Aprendendo colocações pronominais com "Veríssimo"

Papos

- Me disseram...
- Disseram-me.
- Hein?
- O correto é “disseram-me”. Não “me disseram”.
- Eu falo como eu quero. E te digo mais... Ou é “digo-te”?
- O que?
- Digo-te que você...
- O “te” e o “você” não combinam.
- Lhe digo?
- Também não. O que você ia me dizer?
- Que você está sendo grosseiro, pedante e chato. E que eu vou te partir a cara. Lhe partir a cara. Partir a sua cara. Como é que se diz?
- Partir-te a cara.
- Pois é. Parti-la-hei de, se você não parar de me corrigir. Ou corrigir-me.
- É para o seu bem.
- Dispenso as suas correções. Vê se me esquece. Falo como bem entender. Mais uma correção e eu...
- O quê?
- O mato
- Que mato?
- Mato-o. Mato-lhe. Mato você. Matar-lhe-ei-te. Ouviu bem?
- Eu só estava querendo...
- Pois esqueça-o e para-te. Pronome no lugar certo é elitismo!
- Se você prefere falar errado...
- Falo como todo mundo fala. O importante é me entenderem. Ou entenderem-me?
- No caso... não sei.
- Ah, não sabe? Não o sabes? Sabes-lo não?
- Esquece.
- Não. Como “esquece”? Você prefere falar errado? E o certo é “esquece” ou “esqueça”? Ilumine-me. Mo diga. Ensines-lo-me, vamos.
- Depende.
- Depende. Perfeito. Não o sabes. Ensinar-me-lo-ias se o soubesses, mas não sabes-o.
- Está bem, está bem. Desculpe. Fale como  quiser.
- Agradeço-lhe a permissão para falar errado que mas dás. Mas não posso mais dizer-lo-te o que dizer-te-ia.
- Por quê?
- Porque, com todo esse papo,  esqueci-lo.

VERÌSSIMO, Luis Fernando. Comédias para se ler na escola.

Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. p. 65-66 

Os meandros dos censores Militares

Cálice

A turbulência política pela qual a sociedade, de um modo geral, se depara no dia a dia em nada se compara com as agruras do período conhecido como Ditadura Militar, Governo dos Generais ou genérica e popularmente, Revolução. Foram vinte e um anos – 1964/85 – de encabrestamento e sujeição aos diversos quereres dos generais usurpadores, mas que por algum motivo já se encontra apagado da memória do povo brasileiro, haja vistas que, ante o que acontece no presente, alguns conclamam que “é melhor voltar ao tempo da Ditadura”. Para os que pensam assim, convém observar o que Jó, homem que viveu provações inimagináveis nos tempos bíblicos, disse à sua esposa, a propósito de uma ideia sua: “como fala qualquer doida, assim falas tu (Bíblia Sagrada, Jó 2:10).

Culturalmente foi um período de agitação grandioso, não menosprezando outros aspectos sociais. Alguns atores e artistas se viram, de um instante para outro, perseguidos sem “acanhamento”; outros, de maneira menos velada. A título de exemplo, um cantor popular e que hoje seria rotulado de brega – Waldick Soriano – sempre foi observado de perto, motivado por uma música sua intitulada Eu não sou cachorro não. Elba Ramalho com a sua Nordeste independente, que apregoava, entre outras situações, que ao tornar-se independente, o hino nacional nordestino seria “Asa Branca”, do saudoso Luís Gonzaga, e a bandeira seria de renda cearense – o que configura sugestão interessante por representar cultura regional, justamente o cerne da perseguição dos comandantes.

Ao participar do III Festival Internacional da Canção Geraldo Vandré apresentou-se com uma música singular, vez que à mesma eram conferidos três títulos: Pra não dizer que não falei das flores; Caminhando e (ou) Sexta coluna. A referida música foi considerada “atentatória” pelos dirigentes nacionais, principalmente após a plateia delirar com o novo “Hino Nacional”, fato que levou o general Luís de França a concluir que “essa música é atentatória à soberania do país, um achincalhe às Forças Armadas e não deveria nem mesmo ser inscrita” (VENTURA, 1988).

A Roda Viva, do Chico Buarque, O Último tango em Paris, com o inigualável – e belo – Marlon Brando e o ícone das músicas francesas da época, Je taime mon on plus, interpretada por Jane Birkin e Serge Gainsburg, com seus incomparáveis gemidos e sussurros de conotações sexuais também representavam, segundo os censores dos quartéis, atentado e passaram pelo “crivo” da preservação dos bons costumes da Revolução.

Mas “Julinho de Adelaide”, pseudo de Chico Buarque de Holanda, não foi mirado apenas por Roda Viva. “Geni”, no final da década de 1970 e “Cálice”, cantada em parceria com Milton Nascimento também continham mensagens impróprias para um Estado Revolucionário, segundo os que estavam à frente da nação. Esta ultima – Cálice – tem se tornado mais emblemática em função dos “pretextos” e “carimbos” que a desautorizava a fazer parte do repertório musical da época. A titulo de ilustração anexamos uma cópia da referida música, devidamente marcada com carimbos e observações que destacavam o repúdio dos militares responsáveis pela gerência do comportamento dos brasileiros durante a vigência da Ditadura Militar no Brasil.




Fontes
Bíblia Sagrada. Almeida Século 21. Rio de Janeiro: Vida Nova, 2013
Cancioneiros Populares
DVD NFK 072, AA0010500
VENTURA, Zuenir. 1968: o ano que não terminou – A aventura de uma geração. – Rio de Janeiro: Nova Fonteira, 1988
FERRARI, Solange dos Santos Utuari. Por toda parte: Volume Único. - 1ª ed. - São Paulo: FTD, 2013.



Reconhecimento da bondade do Senhor

O ano de 2016 chegou. Após os dez dias é possível refletir no que representou o ano anterior, quais as propostas que foram realizadas e quais as que queremos realizar no novo ano.
As expectativas são reais. Sempre criamos metas, fazemos planos e nos preparamos para efetivá-los. Nos decepcionamos quando algo não sai conforme queremos e nos pomos a lamentar.
Cabe, a pretexto do recebimento de um novo ano, recorrer a Davi, o rei de Israel que após grandes conquistas, declarou que “Grandes coisas o Senhor tem feito por nós e por isso estamos alegres (Sl.126)”. O Senhor tem restaurado nossas vidas a cada dia, nos permitindo ir “mais longe” quando tantos outros tem ficado pelo caminho. É motivo mais que suficiente para estarmos alegres e reconhecer a grandeza e permissão de Deus em nossas metas, nos nossos planos e naquilo que sonhamos de melhor para nós.
Lembremos: Grandes coisas o Senhor por nós.
                                 Alegrias, queridos por isso.

sábado, 9 de janeiro de 2016


Patativa do Assaré

Com zelo particular pela Literatura de Cordel – aprecio outros gêneros literários – deparei-me com esse poema de Antônio Gonçalves da Silva, que me fez recordar a Professora Marcia Amaral, do Synésio Rocha (São Paulo). O seu gosto pela poesia é singular ao ponto de promover, entre as crianças da escola, a prática da leitura e recitação de poemas, além da participação em concursos do gênero.

Foi em uma conversa informal, no dedilhar de um violão – a professora Marcia entende do riscado e toca Adriana Calcanhoto com autoridade – que ouvi falar da “Patativa do Assaré”. Daí  comecei, tardiamente, a conhecer – e a gostar – da sua expressão artística. O texto a seguir faz parte da coletânea Aos poetas Clássicos.


Poetas niversitários
Poetas de Cademia,
De rico vocabularo
Cheio de mitologia;
Se a gente canta o que pensa
Eu quero pedir licença,
Pois mesmo sem português
Nesse livrinho apresento
O prazer e o sofrimento
De um poeta camponês.

Eu nasci aqui no mato,
Vivi sempre a trabaiá,
Nesse meu pobre recato,
Eu não pude estudá.
No verdô da minha idade,
Só tive a felicidade
De um pequeno insaio
In dois livro do iscritô,
O famoso professô
Filisberto de Carvaio.

No premêro livro havia
Belas figura de capa,
E  no começo se lia:
A pá – o dedo do Papa,
Papa, pia, dedo, dado,
Pua, o pote de melado,
Dá-me o dado, a fera é má
E tantas coisas bonitas
Que o meu coração parpita.

Quando eu pego a rescordá
Foi os livros de valô
Mais maió que vi no mundo,
Apenas daquele autô
Li o premêro e o segundo;
Mas, porém, esta leitura
Me tirô da treva escura,
Mostrando o caminho certo,
Bastante me protegeu;
Eu juro que Jesus deu
Sarvação a Filisberto.

Depois que os dois livros eu li,
Fiquei me sentindo bem,
E ôtras coisinhas aprendi
Sem tê lição de ninguém.
Na minha pobre linguage,
A minha lira servage
Canto o que minha arma sente
E o meu coração incerra,
As coisa da minha terra
E a vida de minha gente.

Cheio de rima e sentindo
Quero iscrevê meu volume,
Pra não fica parecido
Com a fulô sem perfume;
A poesia sem rima,
Bastante me disanima
E alegria não me dá;
Não tem sabô a leitura,
Parece uma noite iscura
Sem istrela e sem luá.

Se um dotô me perguntá
Se o verso sem rima presta,
Calado eu não vou fica,
A minha resposta é esta:
- Sem rima, a poesia
Perde arguma simpatia
E uma parte do primo;
Não merece munta parma,

É como o corpo sem arma
E o coração sem amô.
[...]

(In: BARRETO, Ricardo Gonçalves, 2010, p. 232).

A REFORMA E AS SOLAS

Reforma Protestante – nome dado ao movimento reformista que surgiu no cristianismo em 1517 por meio do monge agostiniano Martinho Lutero. A ...