Patativa do Assaré
Com zelo particular pela
Literatura de Cordel – aprecio outros gêneros literários – deparei-me com esse poema de Antônio Gonçalves da Silva, que me fez recordar a Professora Marcia Amaral,
do Synésio Rocha (São Paulo). O seu gosto pela poesia é singular ao ponto de
promover, entre as crianças da escola, a prática da leitura e recitação de
poemas, além da participação em concursos do gênero.
Foi em uma conversa
informal, no dedilhar de um violão – a professora Marcia entende do riscado e
toca Adriana Calcanhoto com autoridade – que ouvi falar da “Patativa do
Assaré”. Daí comecei, tardiamente, a
conhecer – e a gostar – da sua expressão artística. O texto a seguir faz parte
da coletânea Aos poetas Clássicos.
Poetas
niversitários
Poetas
de Cademia,
De
rico vocabularo
Cheio
de mitologia;
Se a
gente canta o que pensa
Eu
quero pedir licença,
Pois
mesmo sem português
Nesse
livrinho apresento
O
prazer e o sofrimento
De um
poeta camponês.
Eu
nasci aqui no mato,
Vivi
sempre a trabaiá,
Nesse
meu pobre recato,
Eu não
pude estudá.
No
verdô da minha idade,
Só
tive a felicidade
De um
pequeno insaio
In
dois livro do iscritô,
O
famoso professô
Filisberto
de Carvaio.
No
premêro livro havia
Belas
figura de capa,
E no começo se lia:
A pá –
o dedo do Papa,
Papa,
pia, dedo, dado,
Pua, o
pote de melado,
Dá-me
o dado, a fera é má
E
tantas coisas bonitas
Que o
meu coração parpita.
Quando
eu pego a rescordá
Foi os
livros de valô
Mais
maió que vi no mundo,
Apenas
daquele autô
Li o
premêro e o segundo;
Mas,
porém, esta leitura
Me
tirô da treva escura,
Mostrando
o caminho certo,
Bastante
me protegeu;
Eu
juro que Jesus deu
Sarvação
a Filisberto.
Depois
que os dois livros eu li,
Fiquei
me sentindo bem,
E
ôtras coisinhas aprendi
Sem tê
lição de ninguém.
Na
minha pobre linguage,
A
minha lira servage
Canto
o que minha arma sente
E o
meu coração incerra,
As
coisa da minha terra
E a
vida de minha gente.
Cheio
de rima e sentindo
Quero
iscrevê meu volume,
Pra
não fica parecido
Com a fulô
sem perfume;
A
poesia sem rima,
Bastante
me disanima
E
alegria não me dá;
Não
tem sabô a leitura,
Parece
uma noite iscura
Sem
istrela e sem luá.
Se um
dotô me perguntá
Se o
verso sem rima presta,
Calado
eu não vou fica,
A
minha resposta é esta:
- Sem
rima, a poesia
Perde
arguma simpatia
E uma
parte do primo;
Não
merece munta parma,
É como
o corpo sem arma
E o
coração sem amô.
[...]
(In:
BARRETO, Ricardo Gonçalves, 2010, p. 232).
Nenhum comentário:
Postar um comentário