Para iludir o
coração
Como me enleva e quanto me impressiona
Conservar sempre nítido comigo
O teu perfil judaico de Madona
Na iluminura de um missal antigo!
A saudade que nunca me abandona,
(Oh! Como sombra de minh’alma, eu te bendigo!)
Fixando a tua imagem se fez dona
Do pensamento em que te dei abrigo. . .
Para iludir o coração que pena,
No espelho móvel da memoria trago
Teu vulto amado, n expressão terrena. . .
E iluminas meu ser, num sonho vago,
Como uma estrela a abrir-se em luz serena
Sobre a quietude límpida de um lago. . .
Da Costa e Silva – Poesias Completas
Transcrita por Zevall, out./2017.
Efemeridade
Tão rápido...
Como a flexa
atirada que viaja célere
Assim como
chegou, ela se foi.
Não incomodou
a dor da ida
Nem como
seria doída
A sua partida
Assim como
chegou, ela se foi.
Não se
importou com o sorriso
– A ausência dele;
Ou com as
conversas jogadas fora
Nem pensou
que deixaria de ser inspiração
Não pensou em
nada
Assim como
chegou, ela se foi.
Agora,
sozinho (e triste)
Não há mais com
quem falar
De alegrias
banais
Ou pra quem
cantar
Não há pra
quem tentar ser poeta.
Não há pra
quem contar as mágoas
Ou falar de
sonhos,
De
desenganos, de amores – novos e velhos
Nem de
desamores, também...
Não há de
quem esperar uma mensagem
Ou pra quem
enviar
Não há uma
“minha menina” que
Na madrugada,
se possa dizer “tô indo”
Ou motivo pra
querer voltar mais tarde
Não há mais
quereres
Pois assim
como chegou tal qual um raio
E que encheu
o coração de esperanças
E, depois, o
dilacerou
Ela se foi
(. . .)
Zevall,
out./17