ESTA
FACA
“Esta
faca
foi
roubada no Savóia”
“Esta
colher
Foi
roubada no Savóia”
“Este
garfo...”
Nada
foi roubado no Savóia
Nem
tua virgindade: restou quase perfeita
entre
manchas de vinho (era vinho) na toalha,
talvez
no chão, talvez no vestido.
O reservado
de paredes finas
forradas
de ouvidos
e de
línguas
era
antes prisão que mal cabia
um
desejo, dois corpos.
O
amor falava baixo. Os gestos
falavam
baixo. Falavam baixíssimo
os
corpos, os talheres. Tua pele
entre
cristais luzia branca.
A
penugem rala
Na
gruta rósea
Era
quase silêncio.
Saíamos
alucinados.
No
Savóia nada foi roubado.
O
CHÃO É A CAMA
O
chão é a cama para o amor urgente,
amor
que não espera ir para a cama.
Sobre
o tapete ou duro piso, a gente
compõe
de corpo e corpo a úmida trama.
E
para repousar do amor, vamos à cama.
A
OUTRA PORTA DO PRAZER
A
outra porta do prazer,
porta
que se bate suavemente,
seu
convite é um prazer ferido a fogo
e,
com isso, muito mais prazer.
Amor
não é completo se não sabe
coisas
que só o amor pode inventar.
Procura
o estreito átrio do cubículo
aonde
não chega a luz, chega o ardor
de
insofrida, mordente
fome
de conhecimento pelo gozo.
Andrade, Carlos Drummond
de, 1902-1987. O amor natural. 5ª ed. – Rio de Janeiro: Record, 1994.
Nenhum comentário:
Postar um comentário