Literatura Piauiense
“Estamos
apresentando aos estudantes e interessados este despretensioso trabalho
propositivo sobre os principais autores piauienses e suas respectivas obras. (.
. .)” – Com estas palavras Luiz Romero Lima inicia a apresentação do seu Literatura Piauiense. Lembrei-me, ao
começar a conhecer a obra, de uma época não muito distante, quanto íamos
prestar exames vestibulares e carregávamos um volume variado de diversas obras
a serem estudadas com afinco na nossa preparação. Normalmente sozinhos, pois
ainda não haviam proliferado os cursinhos preparatórios. E quem estudava
aprendia. E gostava do que fazia.
Hoje a
literatura formativa é esquecida de um modo geral, e em particular, a
literatura piauiense. Ao iniciar a leitura da obra supracitada bateu intensa
saudade e, por acreditar que ainda existem uns poucos iguais a mim, transcrevo
alguns poemas, belos, cativantes e que revelam ao mesmo tempo a grandeza da
criação literária dos piauienses. Vale a pena, acredite.
(Zevall,
2018).
Cogito
(Torquato Netto – outubro, 1971)
Eu sou como eu sou
Pronome
Pessoal intransferível
Do homem que iniciei
Na medida do impossível.
Eu sou como eu sou
Agora
Sem grandes segredos dantes
Sem novos secretos dentes
Nesta hora.
Eu sou como eu sou
Presente
Desferrolhado indecente
Feito em pedaços de mim.
Eu sou como eu sou
Vidente
E vivo tranquilamente
Todas as horas do fim.
x.x.x.x.x.x.x
LET’S PLAY THAT
Quando eu nasci
Um ano morto
Louco solto louco
Torto pouco morto
Veio ler a minha mão:
Não era um ano barroco:
Era um ano muito pouco,
Louco, louco, louco,
louco
Com asas de avião;
E eis que o anjo me
disse:
Apertando a minha mão
Entre um sorriso de
dentes:
vai bicho:
Desafinar o coro dos
contentes.
(Torquato Neto – Os
últimos dias de Paupéria, 1973)
x.x..x.x.x.x.x.x.
O
R I O
Meu rio Parnaíba feito lembrança
Não corre mais entre barrancos.
É um fio na memória um rio esgotado
No recreio de muitas manhãs,
Rio risco rio tatuado
Na deriva de um dia perene.
Meu rio turvo se depositando
Num claro engano que não se renova
E descendo suas águas pelo nunca mais
De outras infâncias ensolaradas.
Meu rio largo de água doce de brejo
Jaz o seu curso entre coroas e
canaranas,
E de outros meninos consumidos
No sol de suas águas
Num delta escuro dividido
Rola o dia perene.
(H. Dobal. In.: LIMA, Luiz Romero.
Literatura Piauiense, 2011)
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