domingo, 18 de abril de 2021

Amanhã será outro dia

Ela os viu novamente. Já era a terceira ou quarta vez que saía para olhar; eram dois homens, bem vestidos, ternos escuros. O mais baixo usava um chapéu; estavam à sombra da torre da igreja, do mesmo lado da rua, umas seis ou sete casas mais adiante. Pela atitude da mulher ela tinha certeza que eram eles; já os vira antes rondando por ali. Eram os homens do "governo". Mas ela sabia o que fazer já que vivia o pesadelo constante dos seus aparecimentos. Não que tivessem ido morar naquela então pequena cidade do Maranhão pra se esconder, pois sabia que cedo ou tarde eles chegariam. Estavam sempre sendo esperados. E chegaram. Só não sabiam terem sido percebidos... Imediatamente, com a calma que o momento exigia, a mulher chamou o filho mais velho, à época beirando os nove anos de idade, e lhe disse uma mensagem para ser levada para o pai. Este trabalhava na mesma rua, quatro quadras mais abaixo e do outro lado. Era por volta de 10h00 da manhã de um dia de verão de 1969 e, conforme a orientação da mãe, o menino saiu como se estivesse a procurar amigos e brincadeiras. Quando chegou na pequena indústria de panificação da família, transmitiu o recado: "mamãe disse para o senhor não ir almoçar hoje"... O que menino não sabia era, que pelo seu recado, só veria seu pai novamente quase um ano depois e em outra cidade. Zevall, lembranças, abr./2021.

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